Nem paulistano ele era. Nasceu em Milão, Itália e seus pais (Elsa e Edoardo) eram músicos do refinado Teatro Scala, de lá. Com quase três anos de idade é que veio para o Brasil pois sua mãe recebeu um convite para atuar na Orquestra Sinfônica Brasileira no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. E saíram da Itália em boa hora pois o governo do ditador (fascista) Benito Mussolini (aliado de Hitler) estava “apertando o cerco”.
Foi assim que Gianfrancesco Guarnieri chegou ao Brasil na década de trinta. Aqui, o presidente Getúlio Vargas preparava o também fascistóide Estado Novo (1937-1945). E nesse ambiente pré-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o primeiro chão brasileiro de Gianfrancesco foi mesmo a “Cidade Maravilhosa”. Lá, já em sua juventude integrou-se no Partido Comunista Brasileiro e começou uma certa liderança estudantil.
São Paulo acolheu Gianfrancesco somente em 1953 quando ele estava com um pouco mais de 18 anos de idade. Sempre ligado à juventude comunista, começou a fazer teatro com o objetivo de conscientização política. Para isso, participou do Teatro Paulista do Estudante. E foi lá que surgiu sua maior obra.
Gianfrancesco entre muitos dos seus feitos será sempre lembrado por uma dessa ou texto escrito em 1956 sob o título de “Eles não usam black-tie”. Se o dramaturgo carioca Nelson Rodrigues “inventou” o teatro brasileiro com a peça “Vestido de Noiva”, encenada pelos “Novos Comediantes” em 1943, no Rio, por certo a segunda “invenção” aconteceu em São Paulo no ano da graça de 1958 (que nunca deveria ter acabado segundo muitos escritores), no Teatro de Arena, próximo à Igreja da Consolação com a montagem de “Eles não usam Black-tie”. A encenação contava uma história sobre operários, moradores de uma favela carioca que estavam em greve por problemas salariais, principalmente.
Operários? Greves? Isto não havia acontecido nos palcos brasileiros e paulistas com um texto nacional. O espectador paulistano até então acostumado a personagens europeus de peças encenadas pelo sofisticado TBC (ou Teatro Brasileiro de Comédia), o preferido da elite paulista no bairro do Bexiga. O Teatro nacionalista, realista, político, de esquerda começa com essa obra de Gianfrancesco. Foi realmente um marco. O homem comum brasileiro com sua fala, seu jeito de andar, de vestir, de comportar-se no palco é uma criação de alguns autores visionários, entre estes principalmente como Gianfrancesco Guarnieri.