É ano de eleições municipais, e são esperados, como sempre, espetáculos de tragédia e humor.
No país onde os partidos são meros amontoados de letras, não é possível a candidatura de não filiados, e, apesar da proclamada igualdade entre os concorrentes, é permitido a candidatos a prefeito disputarem a reeleição, em pleno exercício do cargo.
Para concorrer, basta ser alfabetizado, ainda que não consiga entender, emendar ou propor um texto legal. É a democracia exacerbada !
As atribuições originais dos vereadores, legislar e fiscalizar, são pouco valorizadas pela multidão que comparece às urnas, fiel à deseducação de séculos, onde vereadores assumiam a paternidade de obras, feitos e nomeações do Executivo. Decorre daí as campanhas eleitorais de pretendentes ao Legislativo, prometendo providências típicas do Executivo.
Na verdade, a função legislativa e o próprio parlamento municipal seguem desprestigiados, e historicamente são poucos, pouquíssimos, os vereadores dedicados a obrigar o cumprimento de leis, evitar a corrupção e denunciar todo e qualquer desvio, do Executivo e do próprio Legislativo.
Também nos municípios, os poderes não são independentes e tampouco harmônicos. Não é obrigado a renunciar ao mandato o vereador que aceita ocupar um cargo comissionado no Executivo.
Assim, o mandato do suplente acaba pertencendo ao prefeito, que pode a qualquer tempo devolver à Câmara o titular, ainda que seja para somente uma ou outra votação. É uma afronta à ética um legislador deixar as funções para as quais foi eleito, para integrar o Executivo.
O desavergonhado e crescente valor do subsídio, reinante na maioria dos municípios brasileiros, faz da vereança um bom emprego, atraindo multidões de não vocacionados ao pleito. Também para a vereança deveria ser limitada a reeleição, a uma única vez.
Vereadores possuem o estranho poder de aprovar ou rejeitar Contas, peças objetivas, utilizando critérios exclusivamente políticos e partidários. Contas corretas podem ser reprovadas, e Contas inidôneas podem ser aprovadas com louvor.
Interior afora, é comum a população confessar-se enganada, e lamentar o desempenho do eleito. Na verdade, os eleitores interioranos conhecem todas as virtudes e defeitos dos candidatos, desde o Jardim da Infância, e só um milagre marqueteiro, improvável, é capaz de apagar a memória coletiva. Na verdade, em tais casos ocorrem a idiotia e irresponsabilidade coletivas.
Ouve-se, interior afora, o refrão enganoso de que “o prefeito é bom, mas o secretariado fraco”. Nenhum prefeito é melhor ou pior que os cidadãos que nomeia.
As eleições municipais são peças tragicômicas, explorando necessidades e desinformações da massa votante, que acabam perpetuadas, por gerarem seguidos e seguidos poderes. A cada aplicação do dinheiro público, a sensação infantil do favor prestado. E assim seguimos, desconfiando que, no futuro, seremos o país do futuro.
Mais de 20 mil pessoas vivem na linha da pobreza
Em Itapetininga, 20.814 pessoas vivem na linha da pobreza, ou seja, aquelas cuja renda per capita mensal familiar não ultrapassa o valor de R$ 706, metade de um salário mínimo,...