Como sempre, o excêntrico Abelardo, conhecido na época, em toda Itapetininga, por suas esquisitices, entrou em uma loja, a do dois irmãos, na Campos Sales e pediu um lenço à balconista que veio rápido aos seu encontro.
-Que tipo de lenço o Sr deseja? Perguntou a moça, que imediatamente tirou algumas caixas da prateleira e mostrou diversos tipos de lenços.
-Um lenço qualquer – disse Abelardo. Tirou um lenço de uma das caixas e assoou o nariz e o devolveu à balconista.
– Mas…. Balbuciou a moça, surpreendida.
-Mas o que? perguntou Abelardo.
-O senhor usou-o. Disse ela pegando o lenço com dois dedos delicadamente –Usou-o para limpar o nariz.
-O que deveria assoar com o lenço, talvez a orelha? disse Abelardo admirado. – E a senhorita, com os lenços, o que é que assoa?
– O nariz- respondeu a garota- mas o senhor deveria comprar o lenço.
-Por que razão tenho que comprar o lenço? Não tenho necessidade de ter um lenço.
-Como não? O senhor pediu-me um lenço
-Sem dúvida, mas para assoar o nariz e não para comprar, disse o Sr Abelardo. –A moça faz o que com os lenços?
-Vendo-os!!!
-E faz muito bem- replicou o insano. – Faz muito bem em vender os lenços. Vê-se que não tem necessidade de assoar o nariz. Me desculpe se sou indiscreto, mas se vende os lenços, como faz se precisar assoar o nariz? Limpa com as mãos?
-Mas eu não…. – gaguejou a jovem, que já não sabia o que dizer.
-Não quer me responder? paciência! disse o enjoativo Abelardo.
– De resto, não tenho empenho nenhum em sabe-lo, completou o home – Assoe o nariz com aquilo que muito bem entender e adeus.
E o impagável Abelardo voltou às costas à comerciária e saiu da loja.
Até hoje não se sabe se o lenço foi descontado do salário da jovem trabalhadora