De repente, uma pergunta relampeja: o que acontece com a imprensa escrita de meu país? Desde o maior jornal da querência, onde resido, passando pelo Estadão, Folha, Globo e parentela, é sempre a mesma lengalenga de manchetes! Governo isto, Senado aquilo… Copa tá chegando, Supremo dá sentença, jogador aparecido, passeatas, quebra-quebra, eleições… E, nos últimos tempos, esse tal de “Black Blocs”!
Nada, absolutamente nada de novo! Uma mesmice de água parada, uma canseira, eca! Será que os jornalistas tupiniquins, de repente, estão com cãibra no cérebro, criatividade embotada, cegueira ou, de tanto rezar a mesma ladainha, viraram robôs sem originalidade alguma e apenas enchem linguiça para garantir um ganha-pão?
Claro que há problemas neste brasilzão pé-de-chinelo! Não há como negar… Mas, e os nossos poetas? Por onde sonha Manoel de Barros, em que neblina de Mato Grosso, ele proseia com vaga-lumes e confidencia com borboletas? E o bravo Ferreira Gullar? Por onde anda Afonso Romano de Sant’Ana, Carlos Carpinejar, Adélia Prado e tantos outros… Por que a poesia desapareceu das primeiras páginas? Será porque alguém ou alguma coisa que dirige as redações resolveu apagar, de vez, a poeticidade dos jornais impressos?
E não é apenas a poética que foi deletada das grandes publicações jornalísticas… E a pintura? De repente, alguém sequestrou painéis, telas, pincéis, musas… De balé, teatro, romance, também muito pouco se fala… Música, então, nossa! Silêncio de catacumba! Em compensação, as primeiras páginas vivem estampando carantonhas de jogadores, de políticos, juízes, malfeitores… Credo!
Será que há um complô da mídia impressa para bestificar de vez o povaréu que paga impostos, assina o ponto, enche metrô, ônibus e… estádios? Alguma coisa com jeitão de apocalipse acontece de há muito e sem que ninguém perceba… Alguma coisa monstruosa, fria, silenciosa como uma serpente domina a lápide das 1ª páginas dos jornais…
Manoel de Barros e Gullar já estão pertinho dos Cem anos… E pouco se fala deles…
Será que a grande imprensa está nas mãos de urubus que só esperam a extrema-unção dos nossos bardos pra aí então fazer a festa?
Castro Alves, Manoel Bandeira, Cecília Meirelles, João Cabral…, lá do Parnaso, estão de olho!