Precursora de um comércio moderno e sofisticado que levaria quase meio século para se implantar na cidade, ela foi o símbolo marcante de sua época. Essa mesma loja, atuando ininterruptamente por três décadas, com abrangência em toda a região, não teve — até hoje — no cenário local, estabelecimentos similares, porquanto o estilo, as instalações, o atendimento, os produtos e o sistema de vendas nada deviam aos grandes magazines das maiores metrópoles do Brasil.
“333 é o número da nossa casa
333 é o nosso telefone
3 somos nós para servi-los: Rainha do Sul,
o triângulo da economia “.
Assim, durante mais de 20 anos, os infindáveis ouvintes da antiga Rádio Difusora de Itapetininga memorizavam, ternamente, a propaganda da maior loja da cidade, conhecida em toda a região, a “Rainha do Sul”, localizada na rua Monsenhor Soares, próxima à antiga Prefeitura, no tradicional Largo dos Amores.
Em prédio ocupado, anteriormente, pelo Bar Primavera, estilo francês, de Alcides Bicudo, depois de Abrahão Isaac e, mais tarde, da família Lisboa, passou a sediar uma agência de carros Chevrolet, de Jairo Costa, a Rainha do Sul resplandeceu no mundo comercial graças ao tirocínio visão do saudoso Paulo Lara e seus filhos Paulo, Nelson e Osvaldo, sob o olhar atento da esposa Ângela Guarnieri de Lara, de tradicional tronco itapetiningano.
Sob prisma futurista e inovando tudo o que existia nas distantes décadas de 40, 50 e 60, Paulo Lara, chegando de sua terra natal, Laranjal Paulista, associou-se ao fazendeiro e amigo (da mesma terra) Francisco Alves Correa e deu início à empreitada em 1954, inaugurando as novas instalações daquela que se tornaria a referência da “Terra das Escolas”.
Trajetória – Mas, para chegar àquela altura, Paulo Lara, que já fora comerciante no ramo de confeitaria, estabelecido no final da rua Alfredo Maia, depois, na Campos Sales (onde atualmente se localiza a Loja Cem) e, nos anos de 1920, na rua Monsenhor Soares esquina com a José Bonifácio, já com comércio de tecidos finos e com o nome de Casa Moderna, incursionou em outras atividades na capital paulista.
Foi então que, retornando a Itapetininga, em 1941, sua luz brilhou intensamente, instalando a inolvidável “Rainha do Sul” e, em 1943 adquiriu a parte de seu sócio, passando a gerir a firma com seu filho Oswaldo e com José Toledo Lara (seu Juquinha), pai de Roberto Lima de Lara.
Adquirido o edifício no Largo dos Amores, e completamente inovado em toda a estrutura, com departamentos diferenciados, tornou-se o primeiro magazine da região – uma espécie de mini shopping – oferecendo roupas feitas (masculina e feminina), móveis em geral, eletrodomésticos, cristais nacionais e estrangeiros, prataria, pianos, enxovais, além de uma butique com artigos finos de grandes confecções, lingerie, bijuterias, porcelanas e outros produtos das melhores procedências. Foi durante essa época que a firma lançou o “Carnet Rainha”, oferecendo prêmios como automóveis, geladeiras, fogão, aparelho de jantar e liquidificadores aos consumidores, “novidade que revolucionou o comércio da cidade”, segundo testemunho de Moacir Viana. Também com espírito dos mais avançados e colaborando com a cultura da cidade, a “Rainha” criou, juntamente com a Rádio Difusora, o Repórter Igê – Indústrias Gasparian, fabricantes de roupas – que noticiava fatos locais e gerais, às 10 da manhã e às 5 de tarde, voz dos apresentadores Jair de Oliveira e Francisco Alves Vei.
A Rainha do Sul encerrou suas atividades em 1976, ao mesmo tempo em que a FEPASA, sucessora da Estrada de Ferro Sorocabana, fazia circular seu último trem de passageiros da estação local com destino às páginas da nossa História.