A onda de críticas ao eleitorado nordestino, após as eleições presidenciais, parece mais uma natural indignação oposicionista que propriamente um primórdio de golpe separatista, como concluíram, apressadamente, alguns.
O eleitor, fenômeno disseminado mundo afora, tem como primeiro parâmetro de escolha de candidatos o interesse próprio. O nordeste concentra legiões de pobres, dependentes de auxílio oficial.
A pobreza, que assola grande número de nordestinos, tem origem no secular erro de entendimento do clima da região, e desde que aqui aportou a primeira nau portuguesa buscou-se lamentar e combater a seca, ao invés de somar esforços no sentido de com ela conviver. A sequência de governos corruptos, clientelistas e mantedores da dependência do povo pontuou décadas e décadas de estagnação do desenvolvimento nordestino.
O nordeste brasileiro apresenta concentrações humanas em áreas áridas, incapazes de suprir as necessidades de seus habitantes. Tais áreas só podem sustentar tal concentração demográfica com pesados e onerosos investimentos, em irrigação, turismo ou industrialização. A própria agricultura e pecuária, vocacionadas, foram pouco e esparsamente incentivadas, na região.
Soa lógico que, em situação de dependência, a maioria dos eleitores optasse pelo candidato cuja imagem estivesse relacionada à continuidade do indispensável auxílio. No próprio Estados Unidos, populações menos afortunadas tendem a votar nos Democratas, e populações mais abastadas preferem votar nos Republicanos.
O nordeste, contudo, não é totalmente seco e pobre, nem os nordestinos constituem um clone. Há regiões riquíssimas e polos de desenvolvimento, embora o médio poder de consumo persista baixo.
Falta, aos governos, a iniciativa de promover o desenvolvimento com vistas a tornar crescentemente desnecessários os auxílios para a sobrevivência, até por respeito humano. Manter populações em situação de dependencia pode parecer uma vantagem eleitoral, mas nada mais é que um descalabro moral, político e administrativo.
A ninguém interessa o separatismo, mas é compreensível que queiramos, todos, um número cada vez menor de brasileiros dependentes de auxílios oficiais para a sobrevivência. A dependência gera distorções até no processo eleitoral, impondo decisões de voto imediatistas.
Oposição e situação contam com brasileiros de todos os quadrantes, em seus quadros, e não existem partidos com tendências isolacionistas ou regionalistas. O Brasil deve caminhar buscando diminuir as diferenças regionais, e não torná-las foco de discórdias.
Não devemos jamais estimular as políticas de confronto, que buscam opor brancos e negros, heteros e gays, ricos e pobres, empregados e empregadores, graduados e analfabetos, ateus e religiosos, como se a justiça e a paz social só pudessem ser atingidas pela via da convulsão e intolerância.
Nosso arcabouço legal, programas de governos e educação já caminham, embora lentos, no sentido da redução das desigualdades. Convém não adicionar, aos gigantescos problemas de sempre, o ódio.