O assalto

Novembro de 1987. Caravana de itapetininganos em excursão para o Rio de Janeiro. Já na viagem de ônibus, Fuad Abrão Isaac colocava belos vídeos de música popular brasileira (a autêntica!) como uma reportagem da TV Globo sobre Antonio Carlos Jobim, o “Tom”. E a música de “Tom” combinava perfeitamente com o local que iríamos ficar o então suntuoso Hotel Nacional, em São Conrado.

Mas não com a entrada do Rio de Janeiro através da rodovia Presidente Dutra, a Avenida Brasil onde surge a periferia carioca, sempre abandonada pelos poderes públicos. Nós, itapetininganos, queríamos cenas de cartão postal; fechamos os olhos e só abrimos diante das praias: Copacabana, Ipanema, Leblon e finalmente São Conrado. Paramos no hotel todo de vidro e diante do mar… o verde mar. Daí, piscina, praia, passeios à noite, que vida boa!

No sábado, à tarde, alguns integrantes do grupo resolveram ir até Ipanema visitar a famosa feirinha e depois, já à noitinha, dar uma chegada ao legendário bar Jangadeiros onde se reunia a turma do semanário “Pasquim” (que tinha sido na década de setenta, um fenômeno de vendas por ser um jornal (semanal) de resistência à ditadura civil-militar brasileira). Queríamos ver seus articuladores como Millôr Fernandes, Arnaldo Jabor, Paulo Francis (que já morava em Nova Iorque, mas vinha ao Rio de vez em quando), e outros. Até Chico Buarque… Iríamos de táxi ou de ônibus? Táxi na porta de hotel cinco estrelas sairia muito caro (até porque havia muitos estudantes conosco). Vamos de ônibus! O ponto ficava atrás do Hotel Nacional, próximo a entrada para a favela da Rocinha. Passaria logo. Enquanto esperávamos ficamos conversando com alguns cariocas. O coletivo chegou e subimos. Minutos depois, aqueles cariocas com os quais conversávamos foram mostrando facas, facões e outros instrumentos pontiagudos. Encostaram em nossas gargantas, ameaçando-nos. Os rapazes “tiraram” tudo o que podiam de suas vítimas: dinheiro, cheques, máquinas fotográficas, carteiras, relógios, colares, anéis, pulseiras e com o ônibus parado fugiram para a Rocinha. Descemos como se tivéssemos levados uma grande surra, a maior de nossas vidas. Então, esse era o Rio? Tivemos um pouco de culpa, pois não seguimos as recomendações dadas, ou seja, sair sem grandes aparatos e fomos reclamar numa delegacia policial e voltamos para o hotel bastante decepcionados. Mas à noite, para relaxar fomos assistir a um “show” de Caetano Veloso, na casa noturna Scala Dois, no Leblon. E num momento do espetáculo, Caetano cantava “Rio de Janeiro, gosto de você, gosto de quem gosta deste céu, deste mar, desta gente feliz…”. Saímos do recital bem mais aliviados.

Naquela mesma noite, fomos ainda numa boate (“Uni, Deux, Trois”) no mesmo Leblon ver e ouvir Carlinhos Lyra, um dos “papas” da bossa-nova cantar “Minha namorada” dele e de Vinícius de Moraes. Sim, aquele era um dos aspectos do Rio que queríamos. Era sim…

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