Donzelas ou mancebos solteiros que alisassem a cauda conseguiriam casamento; adolescentes ou crianças ou também adultos após terem montado em seu dorso seriam contemplados com boas notas nos estabelecimentos escolares que todos aqueles que por vários minutos contemplassem comovidamente o animal, soberbo e altivo, estariam fadados a uma felicidade infinda, em todos os aspectos de suas existências. Fato e lenda que misturaram numa simbiose romântica durante quase sete décadas, constituíram-se em permanente alegria aos itapetininganos de quatro gerações, que tiveram oportunidade de conhecer, tatear, admirar comentar o famoso cavalo da antiga Casa Zebu.
Localizava-se na rua Quintino Bocaiúva, a ex-rua das Tropas, uma referência da cidade nos dos de 20 até 1950. Propriedade de Gumercindo Soares Hungria, personalidade que auxiliou Itapetininga a trilhar o caminho do progresso e cidadão prestante, o estabelecimento foi fundado em 1918, dedicando-se à fabricação de montarias, cintos e diversos outros artigos de couro. Possuindo um movimento incomum na época, tal a variedade de produtos a preços acessíveis atraindo enorme freguesia procedente de toda região.
Na entrada da loja despontava um cavalo, devidamente arreado e pronto para ser montado por qualquer pessoa, mas, preferencialmente, pelas crianças, que viam no animal um simulacro dos cavalos que apareciam nos filmes de faroeste dos longínquos anos de 30, 40, 50 60. O cavalo, confeccionado em madeira por um alemão, Fernando Kornig, residente na recém-nascida Vila Santana próxima à Estação da Sorocabana, era uma verdadeira obra-prima, tal a perfeição como foi elaborada.
Pretendia-se, segundo o odontólogo Roberto Soares Hungria –um dos filhos de Gumercindo também um boi Zebu de madeira, mas Kornig faleceu pouco depois. O equino, sem qualquer raça que o identificasse – Bretão, Árabe, Percheron, Manga-Larga, Puro Sangue Inglês ou Matungo – inteiramente de madeira e feitos artesanalmente pelo preço de 200 mil reis, foi exposto por muitas vezes na capital paulista, na Semana do Folclore e, também, em Olímpia. Participou em desfiles do “Sete de Setembro” cavalgado por D. Pedro. Durante o carnaval serviu como tema de escolas de samba e, em alguns aniversários da cidade foi usado nos desfiles escolares.
FOTOS HISTÓRICAS – Não só os moradores da cidade tiveram o privilégio de desfrutar da sensação de andar no “cavalo”, mas visitantes que passavam por ltapetininga faziam absoluta questão de levar seus filhos a cavalgar o animal, com direito a fotografia, que guardavam como recordação. Alguns deles imitavam o famoso Zorro, no “Silver” ou Roy Roger no imponente —Trigger – preferindo outros representarem o papel de Buck Jones, Ken Maynard ou Tim Mac Coy. Esse cavalo permaneceu identificando a famosa casa até início dos anos 90, doado, posteriormente, pela família à Prefeitura Municipal, onde se encontra até hoje no Centro Cultural do Largo dos Amores. Mas sem qualquer ornamento.
Objeto de pitorescas reportagens nos jornais “O Estado de São Paulo- e no antigo “Diário de São Paulo, quando vereador, o jornalista Carlos José de Oliveira solicitou, através de requerimento a colocação de uma placa na lateral do cavalo, com rápidas explicações sobre sua procedência, o artesão responsável pela obra e outros esclarecimentos necessários.
Entre histórias e estórias, “O Cavalo da Zebu”, restaurado, continua no Centro Cultural como uma de suas atrações. continua ele fazendo parte da mitologia da cidade, encantando todas as gerações e pedindo proteção contra o ataque de cupins e maus tratos de quem quer que seja.