O enigmático homem que passa

Nesses dias, numa dessas plataformas de TV, eu assistia a um velho filme que havia visto no antigo cine Ideal (Olana), era o “Homem que passa”. Naquele momento lembrei-me de um saudoso amigo.
Entre as décadas de 1950 e 1980, um passado já um tanto distante, muita gente observava, curiosa, a figura de um senhor, muito bem apessoado, que andava pelo centro de Itapetininga, visitava as bibliotecas – tanto a do Venâncio Ayres ,quanto a municipal- frequentava as livrarias, os estabelecimentos comerciais de seus amigos e especialmente dos “patrícios”, pois falava fluentemente a língua árabe. Um senhor de estatura média, tez clara, olhar profundo, sempre vestindo um terno preto impecável e um cigarro aceso entre os dedos já amarelados. Enigmático, parecia solitário e pensativo. Cumprimentava a todos os transeuntes curvando a cabeça com todo respeito. Parecia personagem de um filme neorrealista italiano.
Tratava-se de Heil Abuazar. Filho de imigrantes libaneses, cujo pai, seguindo as tradições, era um caixeiro viajante, Heil , formado em Direito pela Universidade Mackenzie, professor, gramático, filósofo, de uma notável cultura jurídica e geral. Um tribuno de impressionante eloquência, orador dos mais brilhantes . Respeitado escritor de estilo admirável, fez parte da União Brasileira de Escritores. Durante algum tempo, foi correspondente dos jornais Diário e Correio Paulistanos, além de colaborar nos jornais locais.
Uma de suas atuações intensas foi quando nossa cidade iria receber o Instituto Penal Agrícola, substituindo a antiga Escola Agrícola no bairro do Capão Alto, quando em um ato de protesto contra a instalação do presídio, Heil subiu no palco instalado no Largo dos Amores e discursou veementemente pela causa. Foi ovacionado com muito entusiasmo, diante de suas considerações.
Professor Heil Abuazar, nem sempre lembrado, é um ícone da cultura de nossa Itapetininga e região, deixou uma extensa obra literária, onde três de seus livros são os mais procurados e importantes l, “Um adeus em Cada Esquina” ; “Num Distante País” e “A última Lição”. Ambos falam de memória, de afetividade, de encontros e espedidas.
Que seu legado seja resgatado nos meios culturais e artísticos da cidade. Deixou filhos e netos.

Texto publicado originalmente em 2014.

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