Já com doze ou treze anos de idade eu tinha curiosidade em ver os cartazes dos teatros e cinemas de São Paulo, para apreciar os títulos dos filmes e das peças que levavam. Isto, através do Diário de São Paulo, jornal dos Diários Associados do megaempresário Assis Chateaubriand, que meu pai assinava e era entregue (religiosamente) na rua Campos Salles, em 1952, a partir daí. No setor teatral havia um cartaz que aparecia de vez em quando que era sempre do teatro Santana, na rua 24 de Maio bem no centro da capital paulista e começava assim: “Walter Pinto apresenta”, embaixo vinha o nome da peça, sempre o musical que na época era chamado de “teatro de revista”.
Os títulos eram quase sempre escrachados como: “Eu quero sassaricar”; “É do xurupito”; “Muiê macho sim senhor”. E só depois que vinham os nomes dos artistas, quase sempre cariocas. Num “teatro de revistas” nunca poderiam faltar: os cômicos, cantores, “vedettes” (mulheres que se destacavam das demais), “girls and boys” (moças e rapazes que faziam parte do corpo de baile). E nos espetáculos de Walter Pinto todo elenco era “de primeira”. Os comediantes como Oscarito e Grande Otelo (também astros dos filmes carnavalescos), Pedro Dias (que imitava com perfeição Getúlio Vargas nessa época presidente da república brasileira, eleito democraticamente). E as “vedettes”: as saborosas Virginia Lane, Mara Rúbia, Renata Fronzi, Nélia Paula entre outras. Para escolher suas estrelas femininas Walter não se importava tanto com a beleza do rosto, nem da altura. Elas, as “vedettes” tinham que ser pelo menos vistosas, coxas grossas (que eram o padrão da época), saber cantar, nem que não tivesse muita voz e andar no palco com saltos altíssimos, descer as escadarias (isso era essencial!), vestir maiôs (peças inteiras), fazer números de plateia (quando elas “vedettes” desciam no palco para mexer com os espectadores, mas de uma maneira sofisticada, fina, sem nenhum deboche ou baixaria).
Walter Pinto começou a produzir seus espetáculos sempre no teatro Recreio, na rua Dom Pedro I, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, em 1942. Até então, era um “playboy” (segundo seus biógrafos) grã-fino, que nunca gostou do trabalho pesado, até quando seu pai o empresário teatral Manoel Pinto morreu e seu irmão Álvaro, o filho mais velho que dirigia a companhia teatral (sempre de “revistas musicais”) e que era louco por teatro, Walter nem ligava. Mas Álvaro morreu precocemente e Walter Pinto teve que assumir a herança do pai e irmão. E o até então displicente moço foi tornando-se o maior produtor teatral de “revistas” brasileiro. Conquistou uma equipe de especialistas (comediógrafos, cenógrafos, figurinistas, músicos, diretores de cena, iluminadores, maquinistas (cenários grandiosos), maquiadores, contrarregras, cinotécnicos, carpinteiros e outros). Com essa equipe e elenco (incluindo a orquestra) ao todo duzentas pessoas trabalhavam para Walter, diariamente, em duas sessões noturnas e três diurnas (vesperais às quintas-feiras, sábados, domingos). As encenações de Walter eram sempre um luxo. Algumas revistas musicais ficavam cinco meses em cartaz no Rio, um recorde para época (Anos 50). As “vedettes” usavam maiôs inteiros, mas as aspirantes ao estrelato usavam duas peças, algumas com busto nu e outras completamente nuas. Mas, era uma nudez artificial pois Walter Pinto vesti-as com um “collant” cor da pele importado que era caríssimos. Este ato de desnudar suas mulheres ficava bastante dispendioso para Walter Pinto.