Observando pessoas que transitavam a pé, pelos lados do velho Mercadão, ou melhor no trecho que liga as ruas Cel. Afonso e Cel. Pedro Dias Batista, cena incomum chamou a atenção na figura de um cidadão. De idade considerada madura, com ralos cabelos brancos, mas ainda sem o andar trôpego, no meio da rua tentava segurar as calças, na iminência de cair. Calças de brim, em rápidos minutos se “deslocaram para baixo, surgindo as cuecas, tipo samba-canção”. Segurou-as com força e conseguiu atravessar a rua.
Cena semelhante ocorreu há quase sete décadas atrás, com resultados catastróficos e lamentáveis, para quem conheceu o protagonista. Alguns que ainda se lembram do episódio, riem e também ficam condoídos com o fato ocorrido em Itapetininga. Enfim, para os que desapareceram da face da terra, é pequeno o número dos que são lembrados.Esqueceram completamente que o cidadão existiu, trabalhou, cumpriu suas obrigações e deixou este mundo.
Morrem milhares de pessoas diariamente e entram na estatística alucinante dos mortais, que partiram para o infinito e ficaram apenas na memória de parentes. Morre-se dos mais diversos motivos: assassinatos por balas ou facas; nadando em rios ou piscinas; em incêndios devastadores ou chuvas torrenciais e inundações; por atropelamento de veículos ou desastres de avião, enfim “morre-se em qualquer idade e por razões imponderáveis, com extrema vagarosidade através de doenças adquiridas por motivos ignotos”. Naqueles tempos, cujo passado ainda muitos cultivam e tornam-se nostálgicos, grassava entre o ser humano o mal do século: a chamada depressão. Desconhecia-se a razão dessa moléstia que atingia todas camadas da sociedade. “Uma tristeza profunda e um desânimo que deixava o cidadão completamente fora da realidade”, como costuma dizer o saudoso médico Anibal Teixeira, com consultório na rua Silva Jardim. E grande era o número dos pacientes desse mal que o procuravam, para a devida cura.
Homem de fino trato, elegante, galanteador, típico do artista norte-americano, instalou-se em Itapetininga, estabelecendo-se com uma torrefação de café, na rua Saldanha Marinho, próximo do atual Hotel Colonial e depois com loja de confecções na rua José Bonifácio. Seu nome, Mario Lopes, cujos amigos Abelardo Pellegrini, Nelson Kriger (in memorian) e Osvaldo Piedade o consideravam pessoa refinada, educada e de valor e competência inigualáveis.
Numa bela tarde, quando se anunciava o fim da 2ª Guerra Mundial, de cuja euforia o povo brasileiro se exultava, Mario Lopes, frequentador da alta sociedade local, respeitado e admirado por todos, cometeu suicídio, enforcando-se. Perto daquele tétrico quadro foi encontrado um suspensório (que suspende, próprio para fazer suspender fitas ou tiras que passados pelos ombros, seguram as calças pelo cós, alça). A polícia técnica de Sorocaba solucionou o caso, apontando então o suspensório como responsável pelo acidente ocorrido. Mas ninguém sabe até hoje o porquê de seu ato. A história ficou conhecida como o “Caso do Suspensório” e talvez pudesse ser solucionada pelos personagens do médico e escritor inglês, Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes e o médico Dr Watson.
A cena, na época, lembrou os versos de Carlos Naja: “Entramos na morte, como se entra em casa. Revestindo a carne, pondo tênis, chinelos e pijamas velhos. Entrarás na morte como quem parte para uma viagem”.