“É batata!” este era o termo, entre outros, usado pela meninada itapetiningana quando queria confirmar algo de bom que iria acontecer. E tal palavra era muito usada entre a molecada (principalmente os meninos) entre oito a catorze anos, por aí, para afirmar que um filme muito bom iria passar no Cine São Pedro na rua Campos Salles. Este filme seria de aventuras e de preferência os de Tarzan, o “rei dos macacos” e das selvas (africanas) também.
Bastava o proprietário do São Pedro, colocar um cartaz anunciando que, dali a algumas semanas (ou até um mês antes!) uma película sobre ele, Tarzan, sobrevivente de um acidente aéreo (no qual morreram seus pais) e a criança foi criada por macacos. Nas matinês (seção da tarde), geralmente aos domingos, a criançada se deslumbrava com o personagem criado pelo escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs que escreveu vinte e três romances sobre seu herói. E Hollywood, USA, nem titubeou, começou a filma-lo em 1918, mas somente em 1932 “acertou a mão” colocando o então nadador norte-americano Johnny Weissmuller com vinte e oito anos de idade e que permaneceu interpretando o personagem até 1948, mais ou menos.
E foi Johnny Weissmuller como o “Rei dos macacos”, que encantava os menores e adultos, entre a segunda metade da década de 1940 até o início da década de 1950, época que estamos tratando. Os filmes eram exibidos na seção das noites de sábados que continuavam nas domingueiras da tarde no cinema da rua Campos Salles. Era gostosíssimo assisti-lo e como complemento as saborosas pipocas da carrocinha do gentil-homem Júlio Franci. Tarzan (Johnny Weissmuller) era alto, corpo lento, nem gordo, nem magro, rosto de bom moço (mas era implacável com seus inimigos, principalmente na defesa dos animais, mesmo os ferozes), cobria-se com uma tanga (e dependendo dos filmes da época, curtas ou compridas), peito nu e cabelos compridos (mas, nem tanto). Seu grito era “alma sonora” da floresta africana e a maioria dos animais o obedeciam.
Apesar de ser criado pelos macacos, sabia distinguir entre o bem e o mal, tinha gestos cavalheirescos e era influenciado por sua “bela” companheira de nome Jane (atriz Maureen O’Sullivan, mãe da também atriz Mia Farrow, de “O bebê de Rosemary”). E ambos tiveram um filho, o “Boy” (ator Johnny Sheffield). Para completar a família, a macaca Chita, que muitas vezes roubava as cenas dos filmes pelos seus trejeitos. Os expectadores (mirins, jovens e adultos) deslumbravam-se quando Tarzan “voava” de cipó para cipó das árvores, dando a sensação de total liberdade desafiando a gravidade da terra. Parecia os futuros atletas do surf e skate, que nesta época, mal existiam. E as braçadas rápidas nos rios? E as lutas corporais com membros das tribos inimigas dele?
Numa época em que não havia retransmissão televisiva aqui em Itapetininga (aconteceu somente em 1963), o cinema era a “janela do mundo”. E os filmes de aventura, principalmente os de Tarzan eram uma “fuga da realidade”. O ator Weissmuller foi substituído no início da década de 1950 e daí os filmes não foram mais os mesmos. Os chamativos cartazes do Cine São Pedro anunciando o novo Tarzan já não excitava o público infantil e juvenil como antes.