Lembro-me do Reverendo Raphael Pages Camacho, meu professor no Seminário Presbiteriano Conservador. Viveu na época das grandes polêmicas religiosas. Foi um exímio escritor, musicista e, acima de tudo, grande pregador do Evangelho. Certa feita eu perguntei: Pastor, qual é a finalidade do sonho? Sem rodeios e, demonstrando conhecimento de Psicologia, respondeu: Proteger o sono. Ele citou, creio eu, Jolivet. Eu fiquei contente com a resposta curta uma vez que estava iniciando os meus estudos filosóficos, pois no Seminário se estudava, como faz até hoje, Teologia e Filosofia. Depois, logo que saí do Seminário, fiz a Complementação Filosófica na Faculdade do Padre Bezerra, como se dizia na década de sessenta. Que saudades! Na sala só havia padres e pastores e algumas freiras.
O escritor da carta aos Hebreus, no preâmbulo, assim diz: “Havendo Deus, antigamente, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho.” Falara Deus com Jacó, em Betel, por meio de um sonho. Falara com José por meio de sonhos. Falara com Nabucodonozor e, com muitos outros, através de sonhos. O sonho é uma representação em nossa mente de alguma coisa ou fato, enquanto dormimos. Deus usou o sonho por várias vezes para avisar, prever, instruir, porém, atualmente, ele usa a sua Palavra escrita, isto é, a Bíblia. Moisés, o amanuense de Adonai, numa profecia, afirmou: “Quando estiveres em angústia e todas estas coisas te alcançarem, então no fim de dias te virarás para o Senhor teu Deus e ouvirás a sua voz.” (Dt. 4:30) Sublinhe a expressão “no fim de dias”. É nesse final de dias que Deus-Pai tem-se manifestado aos seus filhos pela sua Palavra.
Cláudia Prócula, a italianinha, foi uma defensora de Cristo. Era esposa de Pôncio Pilatos. Na noite do julgamento de Cristo, ela teve um sonho, onde o personagem principal era Jesus. Sofreu muito, pois a representação, enquanto ela dormia, foi real e assustadora. Reconheceu que Jesus era um Homem justo e quando o seu marido estava assentado no tribunal, mandou-lhe dizer: “Não entres na questão desse justo, porque num sonho sofri muito por causa dele.” (Mt. 27:19) A Bíblia não relata o sonho de Prócula, como fez com os de José, Jacó, Nabucodonozor e outros. Apenas afirma que ela teve um sonho e por causa do seu desvario tentou evitar o pior. A italianinha fez o que pôde. Pilatos podia soltá-lo e impedir a sua crucificação, mas era um homem medroso e, além disso, Deus- Pai dirigia tudo para que se cumprisse as Escrituras. Foi por isso que Jesus disse, quando Pilatos asseverou que tinha poder para soltá-lo:- “Nenhum poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.” Deus usou o medo e a covardia de Pilatos para cumprir a sua vontade. É importante saber que Deus dirige a História para seus propósitos. A vontade divina sempre prevalece. Deus, que é o Criador de tudo, dirige todas as coisas para o seu determinado fim. Foi por isso que Paulo, o apóstolo, asseverou que “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”. Cristo viera para dar a sua vida por muitos. Viera para fazer um sacrifício eterno e suficiente para salvar o pecador. Nada podia impedi-lo de cumprir e foi por isso que ele disse, quando entregou o seu Espírito para o seu Pai:
“Está consumado.”