Em um rápido olhar descontraído, divisou-se um adolescente caminhando solitário com uma caixa às costas. Tratava-se, sem dúvida, de um engraxate, em trajes humildes, semelhantes àqueles que perambulavam pelas ruas em tempos remotos, em busca de fregueses. Este, perguntado, afirmou que “todos os dias vinha de S. Miguel para trabalhar, ou melhor, engraxar sapatos, em Itapetininga.
Tradicionalmente, engraxar sapatos sempre foi considerado um ofício humilde em muitas cidades e, que não é, atualmente, objetivo de muita demanda. Comum era ver engraxates em ponto de ônibus, estações rodoviária e ferroviária, em praças ou em frente a clubes, escolas, campos de futebol, hotéis e casas comerciais. Isto ocorria frequentemente em Itapetininga, que contava com vários meninos, ou adolescentes, exercendo esse trabalho, em busca de freguesia.
Constituiu-se sempre em um serviço historicamente de meninos e, por vezes, exercido por adultos, que se postavam, no Largo da Santa Casa, Avenida Peixoto Gomide, ou no romântico Largo dos Amores. Neste local, igualmente, existiam seis cadeiras de engraxates, devidamente autorizados pelo então Juiz de Direito da Comarca e pela prefeitura.
Simultaneamente com o trabalho dos meninos e adolescentes nas ruas, funcionavam as engraxaterias localizadas em diversos pontos da cidade, com cadeiras confortáveis e apropriadas para o desempenho das funções.
Existiam engraxaterias com cinco ou mais cadeiras, devidamente enfileiradas junto às paredes dos cômodos, em ambiente higiênico e agradável.
A freguesia composta por cidadãos e quase todo segmento social, destacando-se fazendeiros e sitiantes, aprazia-se em ouvir “histórias e novidades não só da cidade, como de todo Brasil, não só dos próprios engraxates, como do rádio ligado nas emissoras de S. Paulo ou Rio de Janeiro”. Todos se extasiavam, também, pela execução de batucadas que os engraxates executavam quando lustravam os sapatos e botas dos fregueses, como lembra Zecaborba Soares Hungria, que foi proprietário de uma engraxataria na rua Campos Sales.
Famosas e sempre lembradas foram as engraxatarias de Átila – um ex-presidente do Clube 13 de Maio – na rua Monsenhor Soares, próximo ao cine Ideal; a de Joaquim Pereira, na rua José Bonifácio, a de Rubião. No Largo dos Amores e a de Antônio Vera Cruz Duarte – progenitor de Roberto Duarte, adquirida então por Zecaborba. Funcionavam também as engraxatarias de Tinâ e João Paulo, com excelente freguesia.
Uma entidade, congregando engraxates da cidade, perdurou por muitos anos em Itapetininga, sob a direção da saudosa professora Silvinha Oliveira, irmã do jornalista Carlos José de Oliveira. Organização integrada por dezenas de menores que trabalhavam engraxando sapatos. Todos devidamente uniformizados, dedicavam-se ao serviço, “somente após o período escolar”, para não prejudicar os estudos.
Nunca foi uma profissão exaltada, mas foi sempre necessária a todos cidadãos que se vestiam elegantemente e “faziam questão absoluta de se apresentarem com sapatos ostensivamente brilhantes”. O desafio de todos aqueles bravos engraxates era de dar vida nova a todos os calçados, pois constituía-se em verdadeira arte de polir qualquer tipo, variedade ou marca de sapatos.
Em Tempo – Cogita-se, segundo informações, que diversas jovens pretendem se estabelecer com engraxateria na cidade. Apenas trabalharão mulheres. Na Itália, cidade de Verona, existe uma engraxataria em que a dona, Eleonora Love, exerce a profissão, com arte e glamour.
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