Os tipos populares que alegraram Itapetininga

Hoje eles descansam para sempre, alguns em humildes túmulos, outros em covas rasa, no silêncio do campo santo. Já não provocam mais a alegria descontraída de todo o povo, que sempre os tratava com carinho e educação. Constituíam e se integram à paisagem de Itapetininga, e em todas ocasiões “se faziam presentes”.
As gerações de 30 e também as anteriores, se lembram com enternecida saudade dos variados tipos populares assimilados pela sociedade, que agora se ressente da falta desses seres humanos, “verdadeiramente humanos e sensíveis”.
O tradicional Largo dos Amores foi o palco dos tipos populares e folclóricos, a maioria nascida em Itapetininga, e amada pela população. Nessa saudosa praça transbordavam de alegria, hilaridade e bom humor, os bem-aventurados tipos populares.
Estão aí os mais velhos, e também os jovens, que conviveram ou ouviram comentários a respeito desses verdadeiros itapetininganos. Do famoso Nhô Lico, morador nas proximidades do Mercado Municipal e que sobraçava sempre uma surrada pasta debaixo do braço? Terno e gravata, um vozeirão atordoante, Nhô Lico imitava trombone de vara, entoando hinos marciais, oferecendo bilhetes de loteria e recolhendo “jogo de bicho”. Sério, quase não sorria, apenas filosofava e jamais admitia brincadeiras. Era estimado e respeitado.
Dito Assobiador usava terno escuro, gravata desalinhada e um indefectível boné de ferroviário. Permanecia quase todos os dias, à noite, nos cantos do Largo dos Amores, “flertando com as moçoilas”. Depois, seguia assobiando as músicas da época, que faziam sucesso nas vozes de Orlando Silva, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Ciro Monteiro e também de Jorge Veiga e Ataulfo Alves.
Outra figura, Dito Corta-Capim, às vezes barba por fazer, empurrando um carrinho e cortando a gramínea para vender a proprietários de animais. Seu sonho era cantar e por isso, interpretava, a seu modo, canções populares. Nas conhecidas músicas de sucesso, Dito colocava as mais desencontradas letras, “sem nexo e plexo”. Era ouvido com atenção e aplaudido, principalmente pela juventude. Sua maior emoção foi quando, levado por Hélio Araújo, se apresentou na Rádio Difusora (PRD-9) cantando uma pequena melodia.
Masca-Língua vendia frutas e era temido pelas crianças. Vivia em constante mau-humor e proferia palavrões, o que constituía a alegria de crianças e jovens. Dava a impressão que estava sempre mastigando chiclete; inofensivo, também fez época.
Bem-te-vi, uma alma generosa, cujo apelido proveio do fato de manter na Avenida Peixoto Gomide uma banca onde vendia brinquedos, imitando com perfeição o trinado daquele pássaro. No Largo dos Amores, invariavelmente todas às noites, ou mesmo durante o dia, era assediado por uma pequena multidão que gritava seu apelido. Exasperava-se e imprecava contra todos, ameaçando violência. Seu desejo era conseguir o cargo de vereador e por isso, com incentivo dos frequentadores da Praça, improvisava comícios, discursando inflamadamente e “apresentando programa de seu governo”. Pouco antes de morrer, o ex-deputado Osmar Thibes do Canto, com grande número de companheiros, presentou Bem-te-vi com um lauto almoço no Edifício Barão, ainda em construção.
O famoso Erasmo, ou Gerôncio, que era encontrado na agência Cometa e que fazia carretos com sua especialíssima “viatura toda enfeitada”, tocava clarinete. Autodidata, integrava à Banda do Rosário e constantemente dedicava-se às serestas, executando com seu instrumento as mais belas canções, durante a madrugada. Também participava, como escoteiro, de todos as provas de bicicleta e no carnaval desfilava com fantasias esdrúxulas. Morreu atropelado com sua bicicleta.
Pinto Louco, um aluno que nunca saiu da primeira série ginasial, mas que participava das variadas atividades sociais e esportivas da cidade, adorado pela totalidade dos estudantes. Pinto Louco era uma figura com acesso em qualquer residência da cidade.
Garrucha, um exemplar chefe de família, estimado pelo povo, dedicava-se à venda de bilhetes de loteria federal. Chapéu, terno e gravata lisa, era visto lépido pelas ruas oferecendo seu produto. Quando vendia uma fração, ria desbragadamente e sentenciava que em toda sua vida nunca vendeu um premiado e sequer trocou um bilhete. “Só vendia bilhetes em branco”.
Outras figuras populares marcaram época e deliciaram a vida de Itapetininga, com humor e situações engraçadas, como Dorfo, que olhava para o céu e atirava objetos; Julico, auxiliar de caminhoneiro; Lenha, simpática figura de um ferroviário que perambulava pelas ruas e divertia-se em mexer com cães que latiam dentro das residências; Luiz Matarazzo, um anjo conhecido pela comunidade itapetiningana. Não esquecendo, uma verdadeira dama, Bily, a prostituta de alma limpa e que encantou todos os varões das décadas de fins de 30, 40, 50 e início de 60. Foi a primeira a ensinar o amor aos jovens estudantes e com carinho quase maternal os chamava de “meus filhos”.
Foram seres humanos que viveram proporcionando satisfação, e ingênuos filhos de Deus em sua simplicidade amaram e foram amados. Estão na lembrança dos itapetininganos que nunca os esqueceram.

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