Há anos atrás, um cidadão de Itapetininga, descendente de libaneses, foi cortar o cabelo na barbearia da Campos era Sales. O barbeiro, como os de toda a parte, procurou puxar conversa.
-Eu tenho uma dúvida, que talvez o senhor possa me esclarecer.
-Pois não, respondeu o freguês
-Eu estava pensando… A Turquia tomou parte na última guerra?
-Parte ativa, propriamente não. Mas de certa maneira esteve envolvida, como os outros países. Mas porquê?
-Por nada, eu só estava pensando. A situação política lá é meio complicada, não? Completou o barbeiro.
O forte do “patrício” não era a Turquia, mas, fazer o que
– Bem a Turquia, devido à sua posição geográfica…estratégica …. Continuou o barbeiro. Não é isso mesmo?
O senhor calou-se e ficou pensando
Um mês depois voltou para cortar o cabelo novamente. Ainda não havia se instalado na cadeira e o barbeiro começou:
-Os ingleses devem ter muito interesse na Turquia, não?
Que diabos esse sujeito vive com a Turquia na cabeça – pensou o cidadão. Mas não custava ser amável, além do mais, ia praticando seus estudos em história.
-Devem ter, mas o principal interesse da Inglaterra é no Egito, Canal de Suez.
-E o clima, lá?
-Onde? No Egito?
-Não, na Turquia.
Antes de voltar pela terceira vez à barbearia, por via das dúvidas, procurou saber mais sobre o país com um conhecido seu, Diplomata Brasileiro, expert em Turquia. Desta vez entupo-o com a Turquia, decidiu-se. E lá se foi
-Diga-me uma coisa e me perdoe a ignorância: a capital da Turquia é Constantinopla ou Sófia? Perguntou o barbeiro
-Nem Constantinopla, nem Sófia, é Ankara.
Aí despejou no barbeiro tudo que havia aprendido sobre a velha Turquia com seu amigo. Mas o homem não se deu por satisfeito.
-O senhor conhece muitos turcos em Itapetininga?
Era demais
-Não, não conheço nenhum. Mas agora chegou a hora de eu perguntar: Afinal, porque o senhor tem tanto interesse pela Turquia?
-Estou sendo apenas amável – respondeu o barbeiro, melindrado, mesmo porque conheço outros turcos, além do senhor.
-Além de mim? quem lhe disse que eu sou turco?
-Não sou turco, sou Libanês. Essa é boa. E aqui em Itapetininga todos esses turcos de quem o sr falou, não são turcos também, são Sírios ou libaneses. Na verdade todos nós somos brasileiros, pois aqui nascemos.
-Brasileiros? Libaneses? Sírios? Balbuciou o barbeiro desconsolado – Quem diria!!! Eu seria capaz de jurar que todos vocês eram turcos.
Mas não perdeu tempo em sua amabilidade:
-O Brasil fica na América do Sul, não é mesmo? E o Líbano e a Síria estão em guerra?
O diálogo ocorreu em fins da década de 1940 na barbearia situada na Rua Campos Sales, próxima ao antigo Hotel Central