Serestas e cantores nas noites locais

Há algum tempo, e não faz tanto tempo assim, as jovens e até mesmo as senhoras eram contempladas periódicamente com “melancólicas”, “dolentes” e sentidas serenatas, emitidas por cantores ou cantoras, todos de nossa cidade .Não eram profissonais, porque nada recebiam pela romântica missão que desempenhavam.

Eram simplesmente cantores privilegiados com a voz que Deus lhes deu e dispostos a alegrar e levar ao êxtase a alma e o espírito das jovens “daqueles tempos”, sonhadoras e confiantes no futuro. Nas estreitas ruas do centro Itapetininga, que se limitavam, praticamente, entre as General Carneiro (rua do DER), Quintino Bocaiuva, Barbosa Franco e Campos Sales, os residentes daquela área se deleitavam, então, e almejavam constituir, posteriormente, em casamento.

Foram dezenas de cantores, sobresssaindo as vozes femininas (algumas delas pianistas de alta categoria), todas dotadas de talento incomum para a música. E, nas claçadas, geralmente, à altas horas, ouvia-se de Dodô, boêmio, acompanhado ao violão por Rubião, proprietário de uma casa de consertos de calçados, assim como Jorge Ravacci, funcionário do DER, entoando canções às jovens que, em silêncio, atrás das janelas ouviam as melodias. Os pretendentes ficavam ao lado dos músicos, tentando enchergar as “donzelas”.

Vinham constantemente nas noites enluaradas, também Paulo Mendes, Paulo Ozi e, muito depois, Pedrinho Santos, Almir Ribeiro, uma das mais belas vozes do Brasil e conhecido internacionalmente. As canções, belas, sublimes e arrebatadores como “Rosa”, “Carinhoso”, “Chão de Estrelas”, “Se todos fossem iguais a você”, “Nada além”, “Aos pés da cruz”, entre tantas outras, eram ouvidas afetuosa e apaixonadamente pelas belas musas da época.

Com a instalação da PRD-9, em 1941, surgiram cantores, considerados verdadeiras revelações, de alto nível, apresentando-se em programas ao vivo, no auditório da emissora, sob a direção do radialista Hélio de Araújo e, depois, do professor José Ferreira Carrato. Obtiveram sucesso invulgar, como Gessy Larizatti; Thereza e Aguinaldo – a voz do Morro -; o sambista Guedes, imitador de Jorge Veiga, o caricaturista do samba; Zizinha Gurgel; Márcia Lisboa; Leonor Silveira; Celina Geminiani. Foram notáveis as participações de Dona Angelina Ragazzi, dirigindo o seu coral extraordinário e, jamais poderia esquecer da grande Margarida Piedade, uma das maiores cantoras de Itapetininga e vencedora do concurso musical do 4º Centenário de São Paulo. Além dessas “divas musicais”, deve-se ressaltar o brilho da esplendorosa Alzirinha Camargo, de fama internacional, que arrebatou multidões na época dourada do rádio brasileiro. Ela residiu em nossa cidade na década de 1920 e 1930, na rua Silva Jardim, casa pertencenteà professora Etelvina Cavalcanti.

Ainda, há tempos atrás, ouvia-se o declamar do poeta Nhô Bentico, o grande vate sertanejo e as serenatas interpretadas por Nicolau Aboarrage, Roberto Placo, José Basile ou Márcio Giorgi, com a participação frequente de Ethie Vei. “Nas noites de lua, ressoavam em todo o céu itapetininigano a vocalização de concertos musicais às maravilhosas jovens desta cidade”, assinala a professora Olga Pelegrini, cujas agradáveis lembranças não lhe saem da memória.

Dia 13 de julho é comemorado o Dia do Cantor e Cantora e faço desse texto uma homenagem a todos os que Deus lhe deu esse dom. Se fosse enumerar os novos artistas de nossa cidade, certamente iria pecar por deixar muitos deles de fora. Por isso, na figura extraordinária da cantora e compositora Kátia Baroni, faço esse tributo.

Katia Baroni é uma excepcional pesquisadora das origens da música brasileira. Pesquisou da Modinha ao Lundú, o Fado e o Chorinho, desde os seus primórdios, no século XVII. Tudo que deu origem às serestas que iluminaram as noites de Itapetinininga e do Brasil. Tem realizado shows por todo o Brasil, com a apresentação do resultado de sua investigação. Especialmente o show “Isso é modinha” (nos meses de abril à junho deste ano se apresentou em Curitiba e várias cidades do sul e sudoeste), onde resgata, com muita qualidade, as primeiras modinhas brasileiras (várias músicas podem ser encontradas no YouTube- veja “Se fores ao fim do Mundo”). Kátia, depois de um trabalho incansável, é reconhecida nacionalmente. Parabéns a todos os artistas, que soltam a música pelos ares do país.

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