Li, no Correio de Itapetininga desta semana que findou, o excelente texto de Luna Formaggi (produtora cultural, comunicadora e ativista social) sobre “filmes e produções audiovisuais em Itapetininga”, no suplemento de Cultura e Comportamento deste jornal. Três filmes (documentários) recentemente produzidos sobre esta cidade, Itapetininga.
Vamos ater em um destes, de título “Eu falo xé”, produzido pelo Núcleo de Arte Marginal Fyabomb com o apoio dos recursos da Lei Aldir Blanc. A série documental é um importante fomentador da cultura underground, promovendo um reconhecimento cultural e local a fim de estimular o fazer artístico regional. Infelizmente ainda não assisti o documentário, mas pelo título “Eu falo xé” valoriza a cultura local.
O modo de falar desta região do Estado de São Paulo (praticamente todo ele) no decorrer de alguns séculos (incluindo o Estado do Paraná) foi (ou ainda é!) motivo de chacota (risos, situações cômicas e até desprezo) por outras regiões brasileiras. Podemos incluir Minas Gerais, mas não toda ela. Tudo por causa do modo de falar (principalmente) com sotaque repleto de “erres”, cortando o “s” das palavras, reduzindo o formato delas (exemplo: não pronunciar as primeiras letras de algumas palavras). Mesmo os paulistanos riam do sotaque do interior paulista, como se estes mesmos paulistanos tivessem um sotaque próprio e a fonética deles fossem claras, naturais, inteligíveis como a fonética do Rio de Janeiro, por exemplo. Em alguns cantos da cidade paulistana fala-se um português macarrônico (mistura da fala do imigrante italiano com a zona rural).
Num artigo de Audrey Furlaneto para a “Folha Ilustrada” da “Folha de São Paulo” de título: Globo adestra sotaques de atores para soar realista”, cita o trabalho da fonoaudióloga Maria Silvia Siqueira Campos. Esta, treinava a atriz de Tatuí, a conhecida Vera Holtz que teria de fazer um personagem carioca e os erres tatuienses teriam que desaparecer. Para a citada fonoaudióloga, o interior paulista (moradores) tendem a “enrolar a língua no céu da boca” e o carioca “deixa a língua no meio do caminho”. Nas décadas de 1940 e 1950, quando as emissoras de rádio entraram com toda a força no Brasil, pensou-se: “agora todos vão falar igual”. Ledo engano. Os sotaques continuaram. A partir da década de 1960, quando a televisão entrou com toda a força, os sotaques continuaram. Ótimo! Prova que há uma resistência cultural regional. A realidade local ainda é muito forte.
Se fato é foto…
O músico e compositor Itapetiningano Breno Ruiz (direita) ao lado de Edu Lobo (esquerda), um dos maiores compositores da música brasileira de todos os tempos. Ambos acabaram de celebrar uma parceria numa música e que em breve estará nas plataformas digitais. Edu Lobo gravará uma canção composta por Breno Ruiz em seu novo disco. Com certeza ficará muito bonita. Foto – Arquivo Pessoal