Milton Cardoso
Especial para o Correio
O tradicional clube Associação Atlética de Itapetininga (A.A.I.) completou 90 anos de existência na última quarta-feira, dia 11 de agosto. A Associação foi fundada a partir da fusão do Itape¬tininga F.C. com o Sport Club Ferroviário. Conforme consta na ata da assembleia ocorrida no dia 11 de agosto de 1931. O primeiro presidente do clube foi Átila Trech juntamente com os diretores Agenor de Moraes, João de Camargo e professor Eduardo Soares.
A partida de estreia do time foi contra o Santana, de Itapeva, quando venceu pelo placar de 3 a 1. Um fato pitoresco marcou esta partida. O time visitante veio com apenas dez jogadores. Como era uma partida amistosa, a Associação emprestou um jogador para o time itapevense. Quis o destino que o gol de honra do Santana fosse marcado pelo jogador atleticano, contou o professor Luiz Pires de Abreu, ex- presidente do clube.
Alberto Isaac em uma entrevista ao jornal local declarou que “O time era imbatível e foi campeão diversas vezes. Um nome que marcou o nosso futebol”. A Associação, ao lado do CASI e do DERAC, foram símbolos de uma época dourada do futebol local. Os clássicos entre as três agremiações foram marcados por grandes rivalidades. Os antigos torcedores se recordam, que nas vésperas dos jogos, em qualquer canto de Itapetininga, o principal assunto nas rodas de conversa eram os embates épicos entre atleticanos, casianos ou deraquianos.
Época Romântica – Nas décadas de 1950 e 1960, as principais áreas de entretenimento na cidade eram nadar nos límpidos ribeirões, assistir filmes, dançar e acompanhar uma peleja futebolística seja no campo do CASI, o no Engenheiro Péricles d´Ávila Mendes ou no estádio José Ravacci Filho. Nos chamados “anos dourados”, os homens acompanhavam as partidas no estádio da AAI vestidos de terno e gravata e as mulheres com trajes sociais.
Havia um local na cidade onde os fanáticos torcedores da Associação se reuniam, o saudoso Bar São Paulo, de propriedade do avô do radialista Carlinhos José. “Só ia lá quem era a favor da Associação Atlética de Itapetininga. Quem não era, não ia de jeito nenhum”, recorda Isaac.
Um dos maiores especialistas sobre o futebol itapetiningano, o ex-goleiro Valdemar de Oliveira, o popular Canarinho, comenta que o melhor time da Associação que viu jogar, foi o esquadrão alvinegro, de 1954 a 1956, formado por Tempero, Cacau, Chupeta, Coquita, D’Burro, Marolo, Quitú, Roque, Alceu, Gilo, entre outros. O craque do time era Tico-Tico, “nosso Garincha”.
Canarinho comenta que essa formação inesquecível ocorreu a partir de uma parceria entre os diretores da Associação da época, liderados por Darcy Coelho de Oliveira, com a Companhia Brasileira de Pavimentação e Obras instalada na cidade. Contando com craques de fora como Tempero e Marolo, bem como “filhos da terra” como o folclórico Tico-Tico, este time foi campeão amador, em 1955, e vice-campeão estadual quando perdeu o almejado título para a Associação Matarazzo, da capital, no campo do São Bento em Sorocaba. Muitos torcedores que acompanharam o jogo decisivo reclamam até hoje da arbitragem.
A equipe era uma verdadeira paixão na cidade. Em seus tempos áureos, conquistou outros títulos nas décadas de 1950 e 1960 disputando vários campeonatos promovidos pela Federação Paulista de Futebol. Em 1961 e 1962, disputou a 3.ª divisão do Campeonato Paulista e esteve próximo de alcançar a 2.ª Divisão do principal torneio do Estado.
Além do já citado esquadrão alvinegro, a Associação foi celeiro de outros bons jogadores como Orlandinho, Pim, Alceu Alves, Armando Reis, Biguá, Duca, Jair Assumpção, Neizão, Enivaldo Alciati, Oraci, Plínio Fontes. Muitos times brasileiros reforçaram suas equipes com jogadores da Veterana, como o XV de Piracicaba, Fluminense, São Paulo, Palmeiras, entre outros.
Além de excelentes jogadores que desfilaram pelos gramados, a Associação possuía folclóricos torcedores, como o libanês Calil Yared, proprietário do Bar Rodovia. Sentado na primeira fileira do famoso pavilhão, sempre gritava “Fecha a linha”, quando os atacantes da equipe alvinegra “adentravam a área adversária, incentivando-os para conquistar o gol”, relembra nostálgico Alberto Isaac.
Esperança – Ao comemorar-se os 90 anos da Associação Atlética de Itapetininga refletimos como era diferente o futebol na época que o clube surgiu e depois, quando conquistou vários títulos. O esporte é um reflexo histórico-social no tempo que está inserido. Em 2014, o premiado cineasta Ugo Giorgetti escreveu uma excelente crônica no Estadão sobre como os próprios habitantes das cidades do interior deixaram de torcer pelos clubes de sua cidade.
Provocado pelo texto de Giorgetti, o cronista Alberto Isaac escreveu uma de suas mais belas crônicas nesse semanário, “O Brilho do Futebol está deixando o Interior” (republicada no livro “Memórias Vivas”, volume 2). Esperançoso, o cronista encerra sua crônica com a elegância habitual: “Enquanto isso os estádios locais vão continuar vazios, talvez por dezenas e dezenas de anos e a esperança repousa no surgimento de algum ‘mecenas’, a fim de ressuscitar o maior esporte popular do mundo, tão glorificado, nesta terra e que foi denominada de ‘Escolas’”.