Por Milton Cardoso
Na terça-feira, dia 31 de agosto, o busto localizado em frente à Escola Peixoto Gomide sofreu uma nova “interferência” (veja foto nessa página). Estes tipos de atos, infelizmente, são comuns às estátuas e bustos na cidade, quando não há atos mais extremos, como em 2015, quando vândalos atiraram fogo no plástico que cobria a estátua de Teddy Vieira, no Largo dos Amores.
Mostra-se, sempre necessário, a criação de novos diálogos artísticos, principalmente para estudantes, sobre os monumentos públicos da cidade, buscando sempre a ressignificação destas obras com as novas gerações.
Alguns especialistas sobre o assunto, entendem que nos dias atuais, muitas vezes os monumentos públicos encontram-se perdidos na agitada geografia urbana moderna, muitas pessoas além de não ver, desconhecem e não se identificam com a história do homenageado. Para eles, as intervenções artísticas podem trazer um novo olhar sobre estes monumentos e abrangência de novas leituras. O artista Eduardo Srur fez um trabalho interessante em esculturas na cidade de São Paulo. Suas intervenções fizeram parte do currículo de estudantes da rede pública estadual nas aulas de Arte.
Outro exemplo, é o artista búlgaro Christo. Famoso por suas criações de tamanho colossais, envolvia monumentos arquitetônicos, como a famosa Pont Neuf, em Paris. Estas ações temporárias estimulavam novas percepções das pessoas em suas interações sobre locais e arquiteturas. Falecido em junho do ano passado, o artista que “embrulhava” construções, não pode realizar seu último trabalho: cobrir o Arco do Triunfo com um tecido azul reciclado.
Herma de Peixoto Gomide – No caso especifico do busto do ex-senador Peixoto Gomide, inaugurado em 1911, vários transeuntes passam desapercebidos em frente ao local e/ou desconhecem sua história ou sua contribuição na implantação da primeira escola normal do interior do Estado, juntamente com o Coronel Fernando Prestes.
O advogado Francisco de Assis Peixoto Gomide foi um importante político da sua época. Contrariado com o noivado sua filha Sophia, de 22 anos, com o poeta e promotor público de Itapetininga, Manuel Baptista Cepellos. Peixoto, no dia 20 de janeiro de 1906, na sua residência na rua Benjamim Constant, em São Paulo, sacou seu revolver Smith & Wesson e atirou em Sophia, logo em seguida colocou o cano do revólver no ouvido esquerdo e disparou o gatilho. O fato ocorreu uma semana antes do casamento. (Veja mais detalhes em “Requintes de uma Tragédia Grega”, publicada nesse semanário em 19 de julho de 2019).
A cena chocou, a ainda pacata, São Paulo. Muitos desconhecidos e personalidades estiveram no enterro, mais de 150 carros de praça e carruagens acompanhando o cortejo até o cemitério da Consolação. Itapetininga foi representada por Júlio e Fernando Prestes.
Seis dias após o suicídio, em Itapetininga, houve uma reunião no salão de audiência do Juízo de Direito com o intuito de prestar homenagens póstumas à memória do político. O encontro ocorreu às 17h, presidido pelo diretor da Escola Complementar, Pedro Voss, tendo como secretários, Adherbal de Paula Ferreira e Edmundo Machado.
Entre os presentes na assembleia, Edmundo Machado propôs a realização de uma cerimônia ao senador no 30º dia de sua morte, seguido de Manuel Cardoso que sugeriu que a mesa mandasse um telegrama em nome dos itapetininganos pela fatalidade envolvendo o senador e sua filha, Sophia. Foi a partir da proposta pelo professor Edmundo Prestes que a “Comissão Permanente de Homenagem Póstuma à Memória do Dr. Peixoto Gomide” iniciou seus trabalhos.
Segundo Landolfo Monteiro, foi dele a ideia, que propôs a recém-criada comissão que encaminhasse ao governo do Estado, que homenageasse o nome da escola com o nome de Escola Complementar Dr. Peixoto Gomide, que o político ajudou a trazer para a cidade. Conforme relato de Monteiro, sua proposta e a construção de uma herma em homenagem ao senador foi aceita pelos presentes, com exceção, do vereador Jorge Alves Cabral. Fato desmentindo posteriormente pelo vereador, em texto publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, contendo nota escrita por Voss.
A reunião foi encerrada com um breve discurso de Pedro Voss que exaltava a adesão dos presentes, além das barreiras partidárias e políticas “quando se trata da prática dos atos de mais elevada homenagem aquelas que delas se tornam dignos”, disse.
No mês ano, a Escola Complementar teve seu nome alterado, mas a construção da herma levou cinco anos. Foi lançado durante esta reunião uma lista dividida em três etapas para aquisição de quantias acima de 500 réis. Para a arrecadação destes valores, foram realizadas diversas atividades. Entre elas, audições musicais no salão nobre (não confundir com o atual auditório, construído na década de 1930), a partir de autorização de um ato oficial do governo, publicado em junho de 1907.
Para o leitor ter uma dimensão da vida cultural de Itapetininga no início do século XX. Vamos detalhar um dos concertos ocorridos em 1907, na “dourada colmeia”, como diziam alguns antigos moradores daqui, que tratavam a escola como a vida da cidade.
Um determinado evento musical para arrecadação de dinheiro, ocorreu no dia 16 de junho, às 20h, e teve três horas de duração. No programa: Schubert, Grieg, Rossini, entre outros. Os doze números foram executados em piano, bandolim e flauta por Caetano Bifone, professor Celestino Guerra, Antônio Vieira, José Pedro Strasburg Junior, entre outros. Nos intervalos a banda Aurora executava números musicais do seu repertório. Consta que o destaque da noite foi Leonie Turian, que cantou as valsas “Praises au Champegne” (Klein) e “Faust” (Gounod) e temas de Prouch, além de um excelente número extra, arrancando dos presentes aplausos entusiásticos.
A herma foi inaugurada em 13 de maio de 1911, na avenida Peixoto Gomide. O convidado para a abertura da homenagem foi Júlio Prestes, que perante a um grande número de pessoas reunidas na praça da avenida, discursou. Depois, descobriu o busto que estava envolto pela bandeira nacional. Coube uma chuva de pétalas serem jogadas sobre a herma por estudantes das escolas.
Representando o corpo docente, coube a professora Cornélia Marcondes o discurso posterior, seguida pela jovem M. Madureira e pela estudante do 4º Complementar, Alayde Camargo. Em nome da família, Mário Peixoto, filho de Peixoto Gomide, falou bem emocionado, segundo jornais da época. Em seguida, finalizando a festa, estudantes depositaram flores em frente a herma. Na festa estavam presentes as bandas escolares e do Rosário.