Um aconchegante espaço no Jardim Itália vem atraindo cada vez mais apreciadores culturais da cidade, trata-se do Cazulo, uma casa colaborativa independente. O local oferece cursos, venda de artesanato produzido por artistas locais e sebo. No fundo da residência, o frequentador poderá tomar um delicioso café e, às terças, comprar produtos na feira de orgânicos, além disso os frequentadores são recepcionados por pessoas que gostam do que fazem. “O Cazulo nasceu de um sonho coletivo, que consistia em um lugar onde pudéssemos trabalhar com aquilo que mais amamos. A vontade de criar, escutar e ter um ambiente acolhedor e aberto para a comunidade nos trouxe o Cazulo”, reflete Carolina Rodrigues Cunha, a Carol, uma das idealizadoras do projeto.
A ideia de casas colaborativas vem crescendo ultimamente, mas engana-se quem deduz que os envolvidos apenas dividem as contas do espaço. Para especialistas, este tipo de ação que funciona através de uma administração descentralizada, demanda que os participantes encontrem soluções para enfrentar os problemas. Outro ponto essencial, é a necessidade em comum das iniciativas que as integram a casa, afinal o espaço é um organismo vivo com atividades abertas, sendo necessário várias ações para estabelecer um diálogo constante com o público.
“Trabalhar no Cazulo para mim é, antes de tudo, uma honra porque é poder exercer plenamente a liberdade na atividade profissional e, ao mesmo tempo, compor com uma equipe totalmente comprometida com a nobre causa da colaboração – e não competição”, resume a professora de música Maria Isabel, que trabalha há um ano no espaço.
A ideia de viver exclusivamente da produção artística surgiu no campus do Instituto Federal de Itapetininga. Carol estudava licenciatura em Física pela faculdade e conheceu Thais Trisltz. Ambas trabalhavam o artesanato como fonte de renda complementar. Porém os desdobramentos acadêmicos as conduziram para outras perspectivas. Quando acabou a graduação, Carol, teve a certeza que não gostaria de ser professora, “o sistema escolar não me agrada”, reflete. Depois ingressou no curso de mestrado pela UFSCAR, mas a paixão pela arte a fez desistir de tudo e transformar o hobby em profissão. “No final de 2017, reencontrei a Thais. Decidimos em fazer alguma coisa, juntas, como artistas. ”, relembra.
Em janeiro de 2018, foram procurar feiras e locais para expor e vender seus trabalhos. A dupla expôs em diversos locais, alguns inusitados, como uma casa só com metaleiros (músicos ou apreciadores de heavy metal). Em Itapetininga, participaram das Feiras do Sol e da Lua, eventos que tem o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo. “Depois conhecemos, em Sorocaba, um local bacana: a feira independente ‘Beco do Inferno’. Em Tatuí expomos no ‘Coletivo Vitamina’. Mas o festival que mais nos impactou foi Pixel Show, em 2018. Foi muito bom para fazer networking e compartilhar ideias e conhecimento”, comenta.
O festival Pixel Show anualmente é organizado pela Zupi Live, sendo considerado o mais antigo festival de criatividade do Brasil e o maior da América Latina, tendo como objetivo contribuir no crescimento e profissionalização do mercado criativo. Sua última edição, a 17ª, ocorreu no último domingo, de forma online.
Carol entende que o maior reconhecimento do público itapetiningano veio com a participação da dupla, por mais de um ano, na Feira da Lua. “No começo as pessoas achavam caro os nossos produtos, aí pensamos: é porque eles desconhecem o processo de trabalho. Começamos a oferecer minicursos de bordado, com baixo custo. Fez o maior sucesso! As pessoas entendiam o processo, reconheciam o nosso trabalho. Passamos a vender mais”, explica. Foi em decorrência dessa demanda que surgiu a ideia de construir, futuramente, um espaço inovador.
Outras experiências na Feira foram frutíferas para a dupla, como o mural colaborativo, uma das marcas da dupla. Para se protegerem do sol durante a Feira que ocorriam aos sábados na praça Peixoto Gomide, elas compraram um tecido de lycra branca. Com o tempo elas ofereciam canetinhas hidrocor para as pessoas pintarem na imensa “tela”. O pano era lavado depois do evento, com o tempo Thais e Carol tiveram a ideia de bordar os desenhos dos frequentadores a partir de votação no Instagram. Até hoje, as pessoas continuam a construir esse mural. “Nos dias da votação nossa rede social bomba”, conta Carol.
Carol entende que empreendedorismo sempre foi uma marca em suas atividades. “Não adiantava a gente fazer o que gostávamos e não conseguir se manter, sabe? Buscamos abrir novas portas, atingirmos públicos de várias faixas etárias. Nas minhas turmas, tenho um menino com 9 anos que adora ponto cruz, seu trabalho concentra-se muito no universo dos games, é a sua referência. Acho que isso é um dos segredos de nossas conquistas: a diversidade de temáticas abrangendo públicos diversos”, reflete.
Porém, essas inovações já resultaram em situações insólitas. Uma das histórias preferidas da dupla foi um trabalho inspirado na imagem do cantor Raul Seixas. “Estávamos em nossa tenda, uma senhora parou, olhou para o trabalho e disparou: ‘Vocês gostam dele? Não deem ouvidos a esse homem, ouviram? ’. Ficavam atônitas e ela nos deu uma lição de moral”, relembra Carol com bom humor.
Um sonho torna-se realidade – Inaugurada em 6 de dezembro de 2019, a partir dos inúmeros pedidos dos clientes interessados em cursos de artesanato, o sonho do Cazulo torna-se realidade. Quem visita o local, encontra um ambiente inquieto artisticamente sempre em busca de novos desafios. Carol, por exemplo, vem se dedicando atualmente ao estudo do universo dos duendes. “É encantador. Eles despertam a minha criança interior. Ampliam e nutrem a minha percepção sobre o mundo da fantasia e dos sonhos”, esclarece. Ela entende que o espaço proporciona constantemente novos estímulos. “Os trabalhos da Thais me inspiram sempre, assim como as conversas com as outras idealizadoras do Cazulo: a Amanda, psicóloga especializada em orientação vocacional, e a Gabriela de Moura, responsável pelo sebo. E claro, com o nosso público, que sempre nos traz alento, novos projetos de vida”, comenta orgulhosa.
O ator e professor de teatro Roberto Vieira Filho, é um dos frequentadores do espaço. Sempre a procura de bons livros vai constantemente ao sebo do Cazulo. “Fico muito feliz em saber que Itapetininga conta com esse espaço cultural alternativo e independente. É um espaço que transborda amor por cada detalhe e nos proporciona experiências incríveis através de parcerias com artistas locais, espaço esse de fortalecimento. Entre livros, artesanato, aulas, eventos culturais, produtos fresquinhos e saborosos. O Cazulo é um dos meus lugares preferidos da cidade. Vida longa ao local!”, comenta.
Se ainda lhe faltam motivos para conhecer o local, o leitor pode tomar um cafezinho coado na hora e se deliciar com um pedaço do bolo de cenoura – o mais apreciado pelos frequentadores –, ou experimentar os salgados veganos. Tudo isto preparado com capricho pela Sueli que transborda simpatia, além de uma agradável “prosa”, num espaço rodeado de muita arte, mas para quem adora tomar um café acompanhado de uma boa leitura, o espaço oferece um cantinho cercado de biblioteca particular.
SERVIÇO
CAZULO
Rua Prof Virgílio Silveira, 54 – Jardim Itália
Instagram @cazul.o | 15 997726032
Horário de funcionamento:
De terça à sexta das 13h às 19h. Aos sábados das 10h às 15h
A feira de orgânicos acontece todas as terças-feiras.