Mais um ano terminando e com a chegada do novo ano há uma sensação coletiva de mudanças e renovações. Quem nunca fez planos na virada do ano? No “réveillon”, palavra do verbo em francês réveiller, que significa “acordar” ou “reanimar”, culturalmente fazemos planos para o futuro. “Despertarmos” para as novas possibilidades de um ano que se inicia. Nessa edição, a equipe do jornal conversou com alguns artistas da cidade para conhecer alguns dos seus projetos artísticos, que seguramente, irão emocionar o público itapetiningano.
Um dos projetos que causa grande expectativa é a estreia do colaborador desse semanário, Ivan Barsanti Silveira como dramaturgo.
“Escrevi uma peça ambientada na década de 1950, mais precisamente em 1958 quando (modestamente) conto a história de dois amores de diferentes classes sociais envolvendo jovens um rapaz e uma moça. Escolhi este ano, 1958, porque o mesmo ficou marcado como ‘Anos Dourados’ quando o mar de felicidade parecia correr solto em nosso país e tudo parecia dar certo”, revela Ivan.
Ivan conta que já escreveu a peça onde detalhou caprichosamente detalhes de figurinos, cenários e expressões da época. No início do ano, a peça será lida por jovens (e talentosos) atrizes e atores da cidade e os ensaios devem começar em março.
Frequentador assíduo de espetáculos, Ivan espera, em breve, assistir novamente espetáculos em São Paulo. “Eu deixei de ir por causa da pandemia. Gostaria também de ir nos concertos musicais na Sala São Paulo, principalmente de música erudita brasileira onde a Orquestra Sinfônica de São Paulo executa obras de Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e entre outros”, diz. Assíduo frequentador do teatro do Sesi da cidade, Ivan não esconde o desejo de assistir aos espetáculos no teatro da Vila Rio Branco. “O Sesi apresenta uma enorme variedade de eventos culturais, tais como peças teatrais, danças concertos e shows”, complementa.
O ator e diretor Paulo Carriel, do grupo Detrás do Pano, confirmou sua volta aos tablados no ano que vem. “Estou muito ansioso com a volta do grupo, por opção não quis fazer nada de teatro esse ano. Deixei pra voltar com tudo, agora, em 2022”, promete. Novamente Carriel irá apresentar “Retratos de Nelson”, livre adaptação do texto “Álbum de Família”, do dramaturgo carioca Nelson Rodrigues. A encenação irá celebrar os doze anos de existência da companhia itapetiningana.
Outro trabalho do grupo que promete agitar a cena teatral da cidade será “Somos Todas Neusa”, uma livre adaptação do texto “Navalha na Carne”, do dramaturgo santista Plínio Marcos. Alguns personagens de outros textos de Plínio, como “Abajur Lilás”, o texto que parece retomar a temática de “Navalha” e o mais engajado politicamente, irão fazer parte da montagem.
Plínio Marcos surgiu como dramaturgo em 1959, com a peça “Barrela” durante o Festival Nacional de Teatro de Estudantes, promovido por Paschoal Carlos Magno, na cidade de Santos. Censurado, sua dramaturgia só seria conhecida sete anos depois com a estreia de “Dois Perdidos Numa Noite Suja” e, no ano seguinte, com “Navalha na Carne”. Para Sábato Magaldi, o material de Plínio são “os marginalizados, os párias da sociedade, expulsos do convívio dos grupos estáveis pela ordem injusta. Uma prostituta, um cáften e o criado homossexual de um prostíbulo são as personagens de ‘Navalha’, exprimindo-se numa linguagem de inteira crueza, que não recua ante o palavrão”, analisa o crítico.
Possivelmente Plínio Marcos nunca tenha sido levado em cena na cidade. O diretor explica sua paixão pelo autor. “Sou apaixonado por histórias densas, que exija muita entrega do ator, que mostre o ser humano sem máscaras no seu limite. Plinio nos mostra isto, ele escreve sobre o ser humano duvidando se realmente é humano, se realmente é gente, de tão humilhado, no seu limite sem saber como chegou lá no fundo do poço”, comenta.
O diretor destaca a trilha sonora que está sendo finalizada. As músicas conduzem o espectador a memória emotiva do denominado universo brega. Músicas de bares à beira de estrada, de boates, tendo o estilo sertanejo em evidência. “Eliana de Lima, Roberta Miranda, entre outras, serão executadas ao vivo, por Katia Barone e Cleide Canto”, revela. Previsto para estrear entre fevereiro ou março, em local ainda ser definido, no elenco, além de Kátia e Cleide, estarão na montagem Gigi Amaral, Nilce Machado, Diego Baldon, Denise Brunatto e Paulo Carriel.
A premiada atriz Bianca Sbruzzi, do grupo Tapanacara, também conversou com o jornal. Em 2022, a companhia planeja o retorno do espetáculo “Os Malandros”, inspirado na obra de Chico Buarque de Hollanda. Porém, Bianca mantém sigilo sobre um novo espetáculo do grupo. “Será uma surpresa através de uma parceria bem legal”, conta.
Incansáveis, o grupo também pretende montar outro musical de a partir da obra literária e musical de Chico Buarque, no segundo semestre. A ideia surgiu durante as apresentações da encenação “Os Malandros”. “Entre conversas de uma roda de amigos, surgiram a todo vapor”, finaliza.
O jornal conversou com a artista plástica Ângela Oliveira que desenvolveu o projeto “New Woman in the New World” voltado para mulheres que após os 55 anos que “decidiram dar novos rumos e significados para suas vidas e com isso influenciam muitas outras através das redes sociais e na vida”, comenta.
Ela entende que essa passagem de 2021 para 2022 possui uma dimensão bem maior. “Vivemos um ano muito difícil. Aos 60 anos então, a sensação de urgência de viver se faz presente em paralelo a uma grande gratidão por ainda se estar aqui. Ressignificar a vida a partir dessa pandemia. Não somos mais os mesmos. O mundo não é o mesmo”, reflete.
Essas reflexões estarão muito presentes na nova fase de seu trabalho, com novas cores e pinceladas. Com novo contrato com uma agência de modelos na maturidade, Ângela se prepara para os novos desafios de sua carreira.
O jornal procurou Walkiria Paunovic, artista plástica e Diretora do Museu Carlos Ayres, que ao lado do marido, Jorge, vem proporcionando muitas opções culturais na cidade. “A gente tem muitos sonhos e perspectiva para o ano que vem, nós temos vários projetos na área de desenho, de cursos, projetos de mostras de artes. Quero fazer um trabalho focando o índio, as pessoas só falam dos tropeiros aqui, eles não falam dos índios. E antes dos tropeiros, a gente sabe que existiam os índios aqui, os negros…Então eu quero fazer um trabalho focando também essas pessoas que não são muito lembradas”, diz empolgada.
Preocupada com a ausência de referências sobre a cultura indígena no museu, Walkiria vem se debruçando em algumas pesquisas sobre o assunto. Resoluta, ela planeja um exposição no espaço focado no índio.
Determinada a rever a história da cidade, ela pretende trabalhar com pesquisas, “colocando dados que confirmem a história e valorizem os artistas locais. Esses são alguns projetos do ano que vem, dentre outros. A gente tem muitas perspectivas de reabertura e de vários projetos. Vamos torcer para que tudo corra bem, para que o museu volte a receber visitas”, comenta.
Para quem não conhece as atividades do Museu Carlos Ayres, vale a pena programar uma visita ao local no próximo ano. O espaço abriga ainda o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico, a Academia Itapetiningana de Letras, a biblioteca Alberto Isaac, o Projeto Guri e o Grupo Teatro Margha Bloes.
Esses projetos, assim como outros espetáculos, documentários, exposições estarão renovando nossas utopias. Mas, podemos garantir que nas edições do próximo ano, esse Caderno estará empenhado em acompanhar e informar sobre as manifestações artísticas e culturais da cidade, seja em locais convencionais ou não. Buscando divulgar peças, exposições, livros, shows, com o objetivo de criar diálogos profícuos que possam contribuir na formação cultural das pessoas.
Portanto, parafraseando o poeta Carlos Drummond de Andrade, desejamos em 2022 aos nossos leitores: sonhos realizados e a esperança renovada. Todas as alegrias que puderem sorrir e todas as músicas, espetáculos, livros que puderem se emocionar. Que sua vida e da sua família seja mais bem vivida. Desejamos tantas coisas, que esse espaço não seria suficiente… portanto, desejamos “apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes… e que eles possam te mover a cada minuto”.
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