Amanhã, dia 20, comemora-se a publicação do Decreto nº 245, de 1894, determinando a escolha de Itapetininga como a sede da primeira Escola Normal do interior paulista. O conjunto arquitetônico, localizado no centro, é formado atualmente pelas escolas EE Peixoto Gomide, EE Fernando Prestes e EE Adherbal de Paula Ferreira onde estudam, aproximadamente, 3.650 alunos não somente do centro, mas de vários bairros de Itapetininga e, continuam sendo referências para a cidade.
A escolha de Itapetininga para sediar a primeira escola na formação de normalistas do Estado deve-se particularmente ao empenho de duas pessoas: Peixoto Gomide (1849-1906) e Coronel Fernando Prestes (1855-1937), ilustres personalidades políticas na época.
O monumental projeto de edificações, destinado a sediar três escolas (Normal, Modelo Preliminar e Modelo Complementar) ficou a cargo do renomado Ramos de Azevedo (1851-1928), um dos mais conceituados arquitetos brasileiros na época. O prédio central tem a sua planta em “U”, semelhante à da Escola Normal Caetano de Campos (hoje sede da Secretaria de Educação), enquanto os outros dois seguiram a mesma planta dos grupos escolares do período.
Decorreram-se quase sete anos, entre a publicação do decreto e a finalização da construção do conjunto arquitetônico, em 1900. Enquanto a cidade não se dispunha de um prédio apropriado na formação de professores, foi instalada em 1895, uma Escola Modelo, comandada pelo major Fonseca (1855–1916), localizada na Rua Campos Salles.
O clima de festividade da cidade pelo funcionamento da Escola Normal possivelmente só foi abalado com a desnorteante notícia do suicídio do político Peixoto Gomide, em 1906.
Em decorrência de tamanha fatalidade, as principais figuras políticas da região sugeriram que o nome do antigo senador fosse denominado ao prédio central que ele ajudou a criar.
O primeiro diretor da escola Normal foi o professor Pedro Voss (1871-1940), que ocupou o cargo entre os anos de 1902 até 1924. Posteriormente diversos diretores assumiram o cargo, entre eles, Júlio de Oliveira Pena, Martinho Nogueira, Roberto Antunes de Almeida, João Bohac, Oscar Leme Brisolla, Antônio Belizandro Rezende, David Antunes, Reinaldo Vieira. Atualmente, a gestora da EE Peixoto Gomide é Fátima Apolinário.
Para se ter a ideia da importância da Escola Normal na formação de professores, até fins da década de 1920, a Escola Normal de Itapetininga formava cerca de um décimo dos professores do Estado. O conjunto arquitetônico também serviu de base para a Revolução Constitucionalista, alojamento de civis voluntários e hospital de sangue.
A ocupação causou enormes estragos aos prédios. Em 1934, houve a principal reforma do edifício central desde sua construção. Entre as diversas mudanças, houve o deslocamento do gradil fronteiriço para o alinhamento dos prédios e a ampliação de mais quatro salas de aula ao prédio, além da construção do auditório denominado Salão Nobre. Engana-se quem pensa que o enorme salão pertence ao projeto original de Ramos de Azevedo.
Mais de 50 anos depois, entre os anos de 1988 e 1991, houve outro significativo restauro do conjunto arquitetônico, graças ao empenho de uma comissão formada por profissionais das três escolas. Esta comissão também sensibilizou a Secretaria da Educação, na época comandada por Chopin Tavares de Lima (1926-2007), ex-aluno da escola Peixoto Gomide, sobre a importância do tombamento dos prédios da avenida Peixoto Gomide. A publicação sobre o tombamento ocorreu quinze anos depois dessa mobilização, no Diário Oficial de 12 de dezembro de 2002.
Com tantas histórias ocorridas nesses 125 anos de existência, pode-se destacar a festividade em comemoração do centenário e a publicação do livro “Escola Estadual Peixoto Gomide: 120 anos em 120 páginas”, em 2014. Anos marcados também pela extinção da formação de professores em nível médio, 2005, que causou grande comoção na população.
O conjunto arquitetônico é, até hoje, uma das mais importantes obras do governo no interior paulista. Cantada em prosas e versos, muitos trabalhos acadêmicos e ficcionais foram escritos sobre as três escolas, inclusive nas páginas no popular romance de Maria José Dupré, “Éramos Seis” (que em breve terá um remake pela TV Globo). Dentre as incontáveis visitas de cidadãos anônimos e populares, pode-se destacar os nomes dos maestros Heitor Villa Lobos e João Carlos Martins, que puderam se encantar com as salas e os corredores da histórica escola.
*Milton Cardoso – Especial para o Correio de Itapetininga