No ano passado um novo estúdio localizado no Jardim Fogaça tornou-se uma nova opção na cidade para artistas que desejam gravar suas músicas e composições. O projeto é capitaneado pelo produtor itapetiningano Paulo Freitas. Paulo garante que em pouco mais de um ano, o estúdio vem convertendo conceitos e criações em resultados bem satisfatórios. Isso deve-se, segundo ele, a sua experiência no universo musical.
O produtor cresceu ouvindo muitas músicas que os pais gostavam. Na infância sua banda favorita era o Queen. Com doze anos começou a tocar guitarra e sua afinidade com a música “foi instantânea”, conta. Na adolescência ouvia muito rock e seu gosto musical foi se definindo por bandas como Green Day, Blink-182, Foo Fighters, entre outras. Na cidade participou de diversas bandas, porém suas experiências em estúdios foram determinantes na sua carreira profissional. “No momento que eu pisei num estúdio profissional, eu vi todo um campo de trabalho fascinante no qual eu pudesse realmente me encaixar no mercado musical, e essa ideia ficou cravada na minha cabeça”, relembra.
Formado em Administração, começou a trabalhar como professor de inglês. Porém, a necessidade de direcionar sua carreira para a área musical falou mais alto. Matriculou-se no curso de produção fonográfica da FATEC de Tatuí. “O curso dispõe de mestres no que ensinam, a grade com matérias essenciais para a formação de um produtor com coisas que eu jamais imaginaria estudar, com um estúdio enorme, cheio de equipamentos de primeira. Aprendi muito mesmo com as aulas, por exemplo gravei até um grupo de alaúde e aprendi a microfonar toda uma orquestra”, explica.
A experiência no estúdio da FATEC foram cruciais na sua formação. Entre elas, a gravação de trabalhos de artistas itapetininganos como dois singles da Strawberry Licor (“Nobody’s Dream” e “Strawberry Liquor”), um EP do Tempos de Morte e uma live session da música “Decapitando regras” do Rafael Vieira – o leitor pode conferir estes trabalhos na plataforma do Youtube.
Em 2016, foi trabalhar na Califórnia (EUA) durante o inverno do hemisfério norte, dando uma pausa nos seus estudos, mesmo assim realizou algumas experiências na área musical como “presenciar a passagem de som, com a banda Blink-182 e do Jimmy Eat World”, conta.
Em 2020 coproduziu um beat e gravou o rapper Odara. “Conheci muita gente legal da música, como o artista Olvr Rafa (de Florianópolis) que faz um trap e tem clip lançado com o Raffa Moreira”, recorda.
Incansável na melhoria contínua do seu trabalho, Paulo Freitas realizou vários cursos de especialização entre eles com o Drum Camp, com Jean Dollabella (baterista do Ego Kill Talent), e edição com a Karen Ávila, referência sobre o assunto, principalmente no universo sertanejo com várias edições de DVDs de artistas renomados.
O Correio de Itapetininga conversou com exclusividade com o Paulo Freitas. Nessa entrevista o produtor fala do crescimento do mercado fonográfico brasileiro, os caminhos do rock alternativo, do seu trabalho no estúdio com artistas itapetininganos, entre outros assuntos. Confira.
O mercado fonográfico brasileiro cresceu muito durante a pandemia. Você acredita que a tendência desse mercado é continuar crescendo?
Definitivamente. Eu li esses dias que o mercado fonográfico no Brasil cresceu pelo sexto ano consecutivo em 2022, e dá pra sentir isso observando a entrada de artistas brasileiros no top mundial, ou com uma exposição internacional em ascensão com mais frequência do que víamos antigamente, como o recente exemplo da cantora Anitta, que foi top 1 mundial esse ano. E a tendência disso é gerar mais interesse pelos nossos artistas, movimentando e agregando ao mercado.
A distribuição de música por streaming continua sendo o principal modelo de negócios, apesar de atingir diferentes perfis de consumidores, o público que curte músicas sertanejas (pop e universitária) seguem dominando as listas das mais ouvidas. Como você enxerga essa predominância do gênero no Brasil?
O sertanejo é um estilo consolidado na cultura brasileira e acredito que de alguma forma ele sempre estará entre as mais tocadas. Porém, como acontece com todo estilo, chega um momento que as fórmulas se esgotam e é preciso renovar pela sobrevivência do gênero. O sertanejo de hoje não é o mesmo dos anos 90 por exemplo e por aí vai.
Segundo uma reportagem da Folha de São Paulo, o brasileiro continua preferindo a música brasileira. Você que morou um tempo fora do país, isto é comum nos EUA ou os estadunidenses costumam ouvir músicas de diferentes lugares do mundo?
Você acredita que esse “isolamento” musical possa ser prejudicial? Tenho até uma história engraçada, meu amigo Eduardo Jacob do bar “Aluga-se” pode até comprovar, pois ele estava comigo. Estávamos caminhando numa rua bem embaixo da placa de Hollywood, lá em Los Angeles, turistando, e paramos pra comprar uma água de um senhor com isopor dentro da garagem de uma das casas e ele nos perguntou da onde a gente era e respondemos: Brasil! No mesmo momento ele disse: Brasil! Gilberto Gil! Tom Zé! Conversamos sobre a admiração que ele tinha pela música brasileira e eu fiquei realmente impressionado, e me fez refletir como muitas vezes a nossa cultura e principalmente a bossa nova é muito mais valorizada por quem é de fora.
Como você enxerga o cenário do rock alternativo mundial e no Brasil? Há espaço para o surgimento de novas bandas como a Blink-182, atualmente?
Pra quem gosta mesmo de rock, e tem paixão pelo estilo, acredito que ele sempre estará lá e não importa se a música está entre as mais tocadas, sabe? É muito louco que bandas de rock como Bring me the Horizon e Archtects bateram o top 1 na Inglaterra neste ano, porém no Brasil a realidade é diferente, que no momento dessa entrevista não tem nenhuma banda de rock nas mais tocadas. Aliás, fica aqui meu apelo para as pessoas procurarem ouvir além do que está no topo das paradas, de uma chance para novos artistas, escute e consuma música autoral local. Mas felizmente tenho visto a volta do movimento Emo (cultura alternativa que se propagou pelo mundo a partir dos anos de 1980), que está em evidência porque se renovou e trouxe novos elementos, mas com um certo ar de nostalgia do que já foi. E com tudo isso acredito fielmente que existe espaço para uma banda como o Blink-182 no mercado hoje em dia, mas novamente batendo na tecla da renovação, até o próprio Blink original não é a mesma banda que surgiu nos anos 2000 então teria que ter algum elemento novo para atrair os ouvidos do público em 2022.
Como surgiu a ideia de montar um estúdio aqui em Itapetininga?
Além do amor incondicional pela música e pelo o que eu faço que é produzir, gravar e mixar. Montar um estúdio aqui surgiu da necessidade em exercer minha profissão num local de qualidade e que ao mesmo tempo eu pudesse desfrutar de todos os benefícios de morar no interior e perto da minha família e amigos.
Quais artistas itapetininganos e álbuns você já produziu em seu estúdio?
O estúdio completou um ano de existência no final de março desse ano e durante esse período passaram por aqui trabalhos muito especiais como o primeiro EP da Sancho’s, banda do querido amigo Amílcar, que faz rock em Itapetininga desde 2004. Estreando suas músicas autorais, com um projeto contemplado pela lei de incentivo à cultura Aldir Blanc. Gravamos 4 faixas produzidas por mim, uma delas a “Perdi as Chaves” com a participação do Beto Bruno vocalista da maravilhosa banda de rock “Cachorro Grande”, que foi a cereja do bolo do projeto. Ano passado também lançamos o single “Me Encontrar” da banda Pretense, também aqui de Itapetininga e que traz toda essa influência pop punk/emo. Ainda em 2021, gravei seis músicas para o EP de estreia da banda “Teoria Zero”, de Osasco. Aliás durante o processo os meninos tiveram que viajar pra cá várias vezes, pra gente fazer um grunge, com uma nova abordagem de elementos, instrumental de primeira, letras em português que te farão questionar coisas e sentir o poder que um bom power trio é capaz. Este trabalho sai ainda este ano, aliás terminamos as mixagens essa semana. E tudo isso que eu falei até agora são bandas de rock.
Quais são as melhores estratégias para um artista com limites orçamentários produzir uma música de boa qualidade?
Para um artista produzir uma música de qualidade ele precisa procurar um profissional. Mesmo com os limites de orçamento, é possível ter um planejamento, pois nada é mais crucial pro artista do que uma música boa e bem gravada. É preciso que o artista entenda o papel desse profissional, que ele confie no trabalho do produtor contratado, e que ele entenda que o valor que ele está “gastando” é um investimento na carreira, que ele poderá colher frutos depois.
Quais as bandas que você está produzindo?
Atualmente estou produzindo a banda Pretense. Lançaremos dois singles “Convalescer” e “Aquele Lugar” que devem sair muito em breve nas plataformas digitais. E também acabei de iniciar os trabalhos para o segundo EP da banda Sancho’s. Ainda tenho projetos em andamento com a cantora Anna Beea, destaque no festival “Itapê Canta”, e com o cantor Lucas Nunes, que também devem sair ainda este ano. E em fase final de produção, mais exatamente na masterização está o EP da banda “Teoria Zero” que muito em breve estará nas principais plataformas.
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