Moyses Moreira Lopes
Estava no Seminário. Era período de férias. Eu fui para casa de meu pai. Minha mãe já havia morrido. Lia, no meu quarto, com a janela aberta, as liras de Camões. O meu pensamento, às vezes, estava em Coimbra, Porto, Lisboa. Andava e amava com Camões.
De repente, assomou à janela, que dava para o jardim, Catarina de Castro Alenquer. Era minha colega de infância e admiradora de meus bosquejos literários. Naquele tempo sonhava com os olhos abertos. Uma alegria sem par e sem limites brilhou nos meus olhos, contemplando aquela beleza feminina. Que alegria havia nos seus olhos! Que graça era seu sorriso! Como era delicada a sua voz! Ela não andava, desfilava pelas ruas. Como era linda! Morreu na virada do século.
Hoje, quando o tempo deixa cinzentos os meus cabelos, ainda me lembro de uma pergunta teológica que ela me fez. Disse ela:- O amor divino é diferente do humano?
Não sei até hoje o porquê da pergunta. Gaguejando respondi com um “sim” que mal saiu dos meus lábios. Disse, depois, que o amor divino provém do verbo “agapao” que exprime desinteresse e que foi demonstrado por Cristo na cruz. Jesus, continuei, disse para Nicodemos, príncipe dos judeus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16)
Analisei palavra por palavra e disse para minha colega que a palavra mundo se refere aos seres humanos. Afirmei que o amor Divino é expresso por doação. Jesus, seu único Filho, foi enviado ao mundo para salvar o pecador. Não obriga o ser humano aceitar a Jesus, mas dá-lhe a oportunidade para ter a salvação eterna. Expliquei que Jesus é Deus e o vocábulo “Unigênito”, analisado à luz do grego, “monogene”, quer dizer da mesma espécie, do mesmo gene, da mesma natureza. Expliquei que Jesus é o Filho de Deus pelo direito eterno de herança. Os homens são filhos de Deus por adoção. Citei Rom. 8:15, Cl. 1:15. Não sei se ela entendeu os meus termos teológicos, mas eu preguei o Evangelho.
Quando ia perguntar se ela aceitava Cristo, crendo nele de todo o seu coração, como exprime o verbo “agapao”, que deu origem ao substantivo “ágape”. Eu ouvi alguém que a chamava:-“ Kate, está na hora do ágape”. Será que alguém estava ouvindo a nossa conversa? Era hora do almoço em família.
Fui, também, almoçar.
Que saudades!