O músico itapetiningano Breno Ruiz, de 28 anos, teve sua composição “Contradança”, em parceria com Paulo César Pinheiro, pré-selecionada para o Grammy Latino 2011 nas categorias “Canção do Ano” e “Melhor Música Brasileira”. A canção concorre na voz da cantora Ilana Volcov. Em entrevista ao Jornal Correio de Itapetininga, o músico fala sobre o seu primeiro contato com a música e como Itapetininga ajudou na sua formação, pelos folcloristas e por um dos mais famosos nomes da música caipira – Teddy Vieira. Com essa base, e uma formação de piano clássico, no Conservatório de Tatuí, o músico está pronto para alçar vôo e é considerado pelo crítico e jornalista Luis Nassif um dos maiores nomes da música brasileira da atualidade. Ele já tem mais de 70 parcerias com o príncipe dos letristas brasileiro, Paulo César Pinheiro.
Correio – Qual foi sua reação ao receber a notícia de que sua canção foi pré-selecionada ao Grammy Latino?
Breno Ruiz – Pés firmemente presos ao chão. Quanto maior a expectativa maior o tombo. Compartilhei o link no Facebook para avisar aos amigos e deixei rolar. Tenho aprendido a construir as coisas sobre o que eu tenho, e não sobre o que eu não tenho. E eu tenho amigos, tenho minha música, tenho um esteio familiar de primeira grandeza, tenho o amor de minha mãe e meu pai que ainda estão aqui para torcer e me apoiar, mas não tenho o Grammy. Pelo menos por enquanto. Então lido com essa pré-seleção como se nada tivesse acontecido.
Correio – Fale sobre a música “Contradança” que foi pré-selecionada ao Grammy Latino.
Breno Ruiz – É só mais uma das músicas que fiz com Paulo César Pinheiro. Tem uma atmosfera dos anos 30, mas é moderna. É uma canção contemporânea que mistura linguagens de maxixe e ragtime.
Correio – Como foi o seu encontro com Paulo César Pinheiro, um dos maiores letristas da música popular brasileira?
Breno Ruiz – Emocionante. Descobri que o Paulinho era dono do teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, e fiquei telefonando insandecidamente para lá até que um dia uma boa alma resolveu ceder e me colocar em contato com o Danilo Rocha – advogado, empresário e sócio do poeta. O Paulinho havia se entusiasmado com minha música, mas me advertiu que ele não faz parceria com quem nunca tenha olhado nos olhos. Então fizemos um combinado: se ele viesse pra São Paulo, me ligaria; se fosse o contrario eu poderia fazer uma visita a ele que as portas estariam abertas. Claro que no dia seguinte eu arrumei “um compromisso inadiável” para viajar para o Rio e fui, por acaso, bater nas portas da casa do poeta.
Correio – O crítico e jornalista Luis Nassif afirmou, em sua coluna, que em breve você estará no primeiro time da música brasileira e que você retoma uma tradição da canção brasileira que começou com Villa-Lobos e parecia ter terminado com Tom Jobim. O que você tem a dizer sobre as declarações dele?
Breno Ruiz – Fico emocionado com a declaração do Nassif. Ele soube entender meu som, como poucos. Mas é o tipo de coisa que depois a gente tem que esquecer. Tenho que não acreditar no Nassif e lembrar de esquecer o que ele disse porque senão isso me levaria a encerrar a minha busca pela beleza, pelo acorde mais bonito, pela melodia mais graciosa. Se o Tom tivesse consciência de que ele era o Tom, dificilmente teria feito coisas como Passarim, Urubu e por aí vai.
Correio – Como foi o seu primeiro contato com a música?
Breno Ruiz – Meu contato com o universo musical deu-se bem cedo, ainda durante a primeira infância. Em casa sempre ouvimos boa música e meus pais incentivaram meu aprendizado musical comprando instrumentos de brinquedo e outros de verdade, mas que pareciam de brinquedo. Da família materna, herdei uma grande coleção de ábuns de música erudita, além de uma certa vocação para a filosofia e apreciação das artes em geral. Minha avó paterna cantava em coro de Igreja e sua irmã, além de ter sido casada com um violinista amador, chegou a gravar disco como coralista. Aos quatro anos, minha curtição era pegar meu pianinho e “tirar de ouvido” todos os jingles que eu ouvia na TV, a musiquinha do Mappin, da Sandiz e da Arapuã – nada nem um pouco espantoso, comparado ao Mozart (risos).
Correio – Você ainda toca sanfona?
Breno Ruiz – Não gosto de dizer que toco sanfona, porque não toco! Arranho de vez em quando, por ser uma ferramenta de trabalho, ou para atender aos pedidos do meu velho tio sanfoneiro, que coincidentemente se chama Luiz Gonzaga, em semelhança com o saudoso Lua, o rei do baião.
Correio – Porque escolheu o piano?
Breno Ruiz – Aconteceu primeiro na minha imaginação de moleque e aos poucos foi se concretizando. Sempre manifestei predileção por esse instrumento. Aos oito anos, tive uma breve passagem pela escola Major Fonseca e acho que ali foi a primeira vez que vi um piano de verdade, abandonado pelos corredores da escola. Tinha muita vontade de tocar, mas não ousava relar os dedos. Aos doze anos cursei a “Cel. Fernando Prestes” e, de vez em quando, minha professora de educação artística, também pianista, me levava junto com alguns colegas mais interessados pra ouvi-la tocar na sala de vídeo. Mas foi no salão nobre da Peixoto Gomide que o meu encantamento se concretizou. Dos treze aos dezessete anos passei tocando o piano centenário que servia de abrigo para cupim, poeira e, na minha imaginação fértil, para as digitais de Villa-Lobos, que havia visitado a escola durante os anos trinta.
Correio – Como você começou a fazer música profissionalmente?
Breno Ruiz – Comecei a receber cachês quando tinha dez anos. Tio Luiz me levava para tocar nos bailes da terceira idade, no Clube Recreativo, e aquilo era um grande barato pra mim. Durante a adolescência passei pelo episódio da separação dos meus pais, algo bem comum na realidade de tantos jovens. A música foi minha tábua de salvação. Foi ela quem trouxe a mim os amigos que tenho e que ajudaram a enfrentar o problema, e foi também a ferramenta prática que encontrei para auxiliar minha mãe no pagamento das despesas da casa.
Correio – Quais são as suas influências musicais?
Breno Ruiz – Villa Lobos, Debussy, Ravel, um pouco de Brahms, Jobim, Caymmi, João Pacífico, Waldemar Henrique, Catulo e um sem fim de outros nomes.
Correio – Que tipo de música você escuta em casa?
Breno Ruiz – Faz um bom tempo que não ouço música. Mas ouço de tudo, tudo que é bom. Acho que os últimos discos que ouvi pra valer foi o Bang Zoom do Bob McFerrin e um CD do grupo carioca chamado Batacotô, liderado pelo Theo Lima.
Correio – Como foi se “aventurar” pela cidade de São Paulo?
Breno Ruiz – Cheguei em São Paulo com meus derradeiros duzentos reais. Como sempre mantive as portas abertas e sempre circulei por lá, os primeiros trabalhos vieram já no meu terceiro dia da aventura, quando o dinheiro que eu havia levado já havia reduzido pela metade. Mas eu sabia que seria assim, contava com isso. São Paulo é uma cidade inclusiva, uma esponja que te suga ao máximo. E me planejei pra servir à paulicéia, pois acreditava que haveria uma boa contrapartida. E foi o que aconteceu
Correio – O que você está produzindo no momento?
Breno Ruiz – Estou finalizando um disco de piano e voz com uma cantora mineira chamada Andrea do Guimarães. Além disso trabalho num projeto de musicalização infantil, dentro de algumas unidades do Sesi e integro a banda do espetáculo circense Universo Casuo, do Marcos Casuo um ex-clown do Cirque du Solei.
Correio – Itapetininga foi importante na sua formação musical?
Breno Ruiz – Itapetininga foi importante para a formação do homem que sou e que reinvento a cada dia. Pra quem gosta da história, como eu, é difícil não se encantar com o fato de Itapetininga ser a terra do Teddy Vieira, do Almir Ribeiro, do Rossini Tavares de Lima, da Alzirinha Camargo (cantora que foi eleita a substituta da Carmem Miranda), da Anésia Pinheiro Machado entre outras figuras importantes que se projetaram de alguma forma no cenário nacional e até internacional nas mais diversas áreas. É bom saber que por aqui houve gente como D. Hebe Villaça ou D. Margarida Piedade, a voz do quarto centenário de São Paulo. Da mesma forma, minha vida musical e pessoal foi influenciada por gente quase anônima como o Zelão massagista, que tocava um violão maravilhoso, o Jorge Amador, cavaquinista, o Oswaldinho e todos os que figuravam os saraus de final de semana na casa dos meus tios.
Correio – Você pensa em se apresentar aqui?
Breno Ruiz – Sempre quis fazer um show aqui. Havendo oportunidade, será grande o prazer!
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