João Alvarenga (*) – Os depoimentos apresentados às Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) têm sido, até agora, um escabroso desfile de homens públicos desmemoriados, pois ninguém sabe, ninguém viu ou autorizou coisa alguma e, quando muito, assumem uma posição genérica: o partido viu, o partido fez ou autorizou os desmandos.
Mas, os depoentes esquecem-se do mais elementar: uma agremiação partidária, não importa seja qual sigla for, é composta de pessoas que assumem papéis outorgados pelo próprio grupo em questão. Logo, por detrás de um nome fantasia ou de uma suposta ideologia, há – naturalmente – alguém mandando, determinando, autorizando, outorgando; enfim, agindo (neste caso, os gerúndios se fazem necessários) em favor de uma bandeira defendida ou mesmo em causa própria.
Mesmo assim, prevalece nas declarações dos investigados e das testemunhas implicadas neste “tsunami” de escândalos a idéia de total alienação frente aos fatos ora escancarados pela mídia nacional e, apesar de tantas evidências cabais, os sabatinados apresentam-se como autênticos néscios ou humildes desconhecedores de quaisquer indícios latentes de corrupção.
Dessa forma, as expressões: propina, “mensalão”, “mensalinho”, compra de votos, cambalacho, sonegação do Imposto de Renda, superfaturamento de obras e serviços, nepotismo e tráfico de influência não passam de vocábulos gregos que, de certa forma, estão em desuso na vida pública brasileira, principalmente em Brasília, o “berço” da moralidade pública.
Com isso, infelizmente, os depoentes quase nada acrescentam às enfadonhas sessões das CPIs, pois amparados por hábeas corpus são mais dissimulados do que a frágil Capitu do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; no entanto, quando atravessem-se a destilar certas “verdades”, tais afirmações ou são óbvias ou não passam de “contos da carochinha”.
Porém, além de néscios, mostram-se – diante das câmaras – inaptos para os cargos aos quais foram delegados plenos poderes, portando-se, então, como autênticas “Marias Antonietas” enclau-suradas em castelos de vidro, completamente inertes ante as ações dos corrompidos e corruptores.
Assim, só lhes resta a atitude evasiva de negar o óbvio, ou seja, mentir, mentir e mentir ou, quando muito, calar-se para consentir o erro mesquinho que, lamentavelmente, expõe a fragilidade de uma democracia movida a interesses pífios e espúrios.
Todavia, o que mais agride a vida nacional não é a corrupção em si – esta velha conhecida do povo brasileiro – mas, o cinismo evidente daqueles que comprovadamente estão com as mãos sujas e a dignidade atirada na lama e que, no entanto, insistem na ladainha sacrossanta: nada viram, nada fizeram, nada sabem. Agem naturalmente como se fossem anjos entre homens caídos.
Com isso, ficamos diante do “nada” dito por esses tantos “severinos” engravatados de fala pretensamente eloqüente que, com a sutileza de um elefante, da noite para o dia, mataram a esperança do povo brasileiro e, sem cerimônia, enlamearam a face da República Federativa do Brasil. Assim, macularam a nossa pátria amada, outrora tão idolatrada e, que por ora, infectou-se com o vírus da canalhice, o qual corrói os valores mais significativos da nação, para enaltecer – a bel prazer – a mentira como forma de sustento.
Logo, a verdade política (se é que ela realmente existe) está na UTI e a profilaxia emerge do resgate urgente da moralidade pública; porém, os envolvidos nessa sórdida novela que insiste em repetir os mesmos capítulos putrefatos da imoralidade não sabem de nada disso, são ingênuos homens públicos, eleitos para representar não os interesses do país, mas as causas mesquinhas, os “mensalões” e os “mensalinhos”.
Todavia, consola-nos o fato de imaginar que talvez, agora, o povo saiba disso e, embora, a desilusão esteja tão tangível em cada olhar, espera-se que “lavanderia de Brasília” limpe toda a sujeira da velha República e a Ética volte a ser palavra de ordem na vida política da Nação. Afinal, o Brasil é maior que qualquer crise, pois sua gente honesta e devotada ao trabalho sério, resignada, segue em frente.
(*) O autor é professor de língua portuguesa e membro da Academia Sorocabana de Letras.
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