O que conversavam contrictamente, na tarde daquela chuvosa primavera, quatro responsáveis pela segurança pública de Itapetininga e que pareciam devéras preocupados? O acontecimento, motivado pelo encontro daquela reunião, ocorria na década de 1940, no início do mês de outubro quando a população começava a se interessar pelas eleições que se aproximavam , quando seria escolhido o presidente da República do Brasil: os candidatos eram Eurico Gaspar Dutra e o Brigadeiro Eduardo Gomes, Bem diferente dos dias atuais, onde os meios eletrônicos encarregam-se da propaganda e a população “não tem a mesma vibração patriótica como dantes”.
Itapetininga, em sua pacatez provinciana, com pouco mais de 30.000 habitantes concentrava sua vida econômica e social no quadrilátero formado pelas ruas Quintino Bocaiúva, Prudente de Moraes, General Carneiro e Avenida Peixoto Gomide. Com pequeno destacamento policial, vivia em clima de quase total tranqüilidade e o jornal com maior circulação, e muito apreciado, sustentava-se com crônicas, poesias, dedicando espaços a notícias do cotidiano, além, claro, do esporte. Para esse setor focalizava os feitos do futebol praticado pela Associação Atlética e algumas notas policiais que se resumiam em pequenos furtos e, raramente algum crime de repercussão, e desavenças entre visinhos, E o velho jornalista, Antonio Galvão, proprietário da “Tribuna Popular”, também se encontrava naquela reunião, onde as autoridades confabulavam sobre algo desconcertante que estava deixando os moradores inquietos. O caso, pelo que se sentia, extrapolava os limites da imaginação e ressoava em municípios vizinhos. A pergunta então, feita com ansiedade era: “quando o estranho caso seria resolvido?
Por essa razão é que naquele prédio, onde funcionava a Delegacia de Policia local, encontravam-se o delegado de polícia, Dr. Syrius de Almeida, o escrivão João Carneiro de Campos, o soldado da Força Pública Deolindo e o famoso “secreta” Belarmino Machado. A Delegacia Policial, instalada na parte superior do antigo Banco do Estado, na Praça dos Amores, nunca esteve tão focalizada pelo enorme público que se concentrava ao seu redor como naquele dia.
Os responsáveis pelo caso decidiam quais as providências a tomar para resolver a questão considerada um tanto misteriosa. O fato é que – alguns ainda devem se lembrar- periodicamente, uma das covas do cemitério São João Batista era aberta e o caixão amanhecia exposto à vista do encarregado do campo santo, “seu” Chico Leite e outros que por ali estivessem. O estranho acontecimento tornava-se conhecido celeremente entre a população que conjeturava a respeito, emitindo opiniões diversas.
Chegou-se a levantar a hipótese de que “forças estranhas desenterravam o cadáver para provar a existência de seres de outros planetas”.
O bairro denominado Paquetá ficou transtornado com o fato e seus moradores já nem saiam à noite, mesmo para efetuar alguns serviços considerados necessários, tal o temor que os abatia.
Decidiu-se, após muitas discussões e sugestões, que os policiais passariam a vigiar o local, sem serem notados” e assim descobrir o tenebroso mistério que já se estendia por algum tempo. Após algumas noites “em campana”, o estranho fato foi esclarecido. Um jovem com cerca de 15 anos, sinais visíveis de retardo mental, desenterrava o caixão e “alucinadamente abraçava com sofreguidão o morto, derramando copiosas lágrimas. Levado à Delegacia, com todo respeito e digno de pena”, confessou aos prantos convulsivos que o morto era seu pai, e sentia muitas saudades dele, razão porque praticava aquele ato e “queria vê-lo e sentir o seu contacto”. O sucedido, repercutiu em toda imprensa nacional, e teve seu desfecho em 2 de Novembro, Dia de Finados.
Mais de 20 mil pessoas vivem na linha da pobreza
Em Itapetininga, 20.814 pessoas vivem na linha da pobreza, ou seja, aquelas cuja renda per capita mensal familiar não ultrapassa o valor de R$ 706, metade de um salário mínimo,...