Diego Assis – Desconsidere a assinatura acima. Hoje, meu nome é Chico Benton e estou acompanhando um dia na vida de Hamlet Linden, repórter contratado para “cobrir a emergência da sociedade” de Second Life, misto de game em realidade virtual com site de relacionamentos, criado em 2003 pela Linden Lab, uma pequena empresa de São Francisco, nos Estados Unidos. De lá para cá, mais de 43 mil pessoas se registraram no site da empresa (www.secondlife.com) para, mediante uma assinatura mensal, exercitar seus alter egos em Second Life, também conhecidos como “residentes” ou avatares.
Hamlet, na verdade Wagner James Au, é jornalista na vida real, escrevia para a revista eletrônica “Salon.com.”. Nos últimos dois anos, porém, 100% das histórias que publica em seu blog New World Notes vêm do mundo virtual. “Vivo dizendo a jornalistas que eles deveriam entrar. Existe aqui uma quantidade fantástica de histórias – culturais, políticas, sociais – e não há meios possíveis de um único jornalista escrever sobre todas elas sozinho”, comenta, hoje vestindo um traje de gala branco, enquanto me convida para um passeio por sua recém-inaugurada Exposição de Avatares Extraordinários. Patrocinado pelo próprio Linden Lab, o evento virtual evidencia uma das principais paixões dos “residentes” de “Second Life”: modelar seus próprios corpos.
“Eu não me visto assim”, adianta Sukkubus Phaeton (todos os nomes usados nesta reportagem são apelidos). Na realidade uma comportada mamãe de 33 anos, Phaeton aparece para mim como uma dominatrix de formas exuberantes, vestida em couro e chicote na mão, quase tudo confeccionado por ela desde que chegou a SL há dois anos. “Sou de carne e osso por trás do avatar, mas aprendi tantas coisas desde que estou aqui. Esse jogo pode lhe ensinar muito sobre a vida real”, diz.
Ao longo de toda a minha jornada pelo mundo de SL, Sukkubus foi uma das poucas que o tratou por um “jogo”. Isso porque, apesar de suas semelhanças com games de simulação, como The Sims, e com os RPGs massivos, como o popular World of Warcraft, no qual interagem simultaneamente milhões de jogadores em todo o mundo, Second Life é praticamente todo ele controlado por seus próprios “residentes”.
DETALHES DO TERRITÓRIO VIRTUAL – Com atuais 77 mil km? de extensão – área pouco menor do que a soma dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo -, tudo o que existe sobre o território virtual foi construído pelos usuários a partir de uma ferramenta de modelagem embutida no programa: roupas, acessórios, veículos, casas, mansões, castelos, shopping centers, igrejas, discotecas…
Tommy Oz, por exemplo, está construindo sua “estação orbital”: “Construção orbital é a criação de estruturas complexas acima de 4 mil metros. Normalmente, você pode colocar objetos a até 700 metros. Acima de 4 mil eles despencariam do céu”. O futuro do pretérito se deve ao fato de ele, um senhor de barbas e cabelos brancos vestindo uma camiseta onde se lê Nature 2.0, se considerar um cientista das leis da física dentro de Second Life.
“Basicamente, temos uma linguagem de código chamada LSL que nos permite ter um controle significativo desse mundo”, explica-me mais tarde Jeffrey Gomez, autor de Primmies, um dos muitos games desenvolvidos no interior de SL – há desde versões de shooters como Unreal Tournament, por exemplo, até os populares caça-níqueis onde é possível ganhar (e perder) uns trocos na moeda local. “(Os jogos) funcionam bem na maioria das vezes. Mas têm seus limites. E nós existimos para quebrar esses limites”, afirma.
E, por falar em limites, muitos já foram quebrados pelo casalzinho Lasko Mondrian e Lady Dreamer Fielding, mulher vistosa de longos cabelos rubros e tom de pele acinzentado. Desde que entraram para o Second Life, já construíram um navio, um “buggy” e acabam de alugar dois servidores (esses com dinheiro vivo) nos quais estão criando seu próprio RPG. “Não é exatamente um jogo”, adianta Lasko Mondrian, sujeito forte, aparência igualmente cinza e corte de cabelo moicano. “Não há vencedores ou perdedores, apenas o amor pela exploração”, completa LadyDreamer enquanto é coberta por beijinhos no cangote.
Amigos de internet há quatro anos, ela inglesa, ele norte-americano, LadyDreamer e Lasko nunca se encontraram na vida real. Contagiado talvez pelo bonito pôr-do-sol ao fundo, nosso Hamlet se derrete: “Essa é uma faceta do SL que nunca deixa de me comover. Muitos criam por sobrevivência ou por dinheiro; outros fazem apenas por amor.”
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