Com certeza a maioria das pessoas já passou, ou ainda passa, por um sofrimento enorme na perda de alguém querido. O luto traz dor e tem um grande impacto na vida emocional das pessoas. Infelizmente, o tema ainda é um “tabu”, assunto incômodo que as pessoas não gostam de falar.
Mas o grande problema é esse. Para conseguir lidar com o luto é preciso falar, é preciso encarar a dor da perda e buscar ajuda.
O Grupo de Apoio aos Enlutados foi criado com o objetivo de levar ajuda às pessoas que estão sofrendo com suas perdas. Foi fundado por profissionais da área da psicologia (Cassia Matarazzo, Patrícia Domingues, Luciana Fraletti e Sergio Martins Filho), que fazem parte do Instituto Fundamente. O Instituto Fundamente é um espaço para promoção de estudos sobre saúde mental, trabalhando na produção de conteúdos informativos, intervenções na comunidade, espaços de escuta e apoio emocional, além de desenvolver projetos para a formação de grupos de acolhimento nas diversas áreas da saúde mental.
A iniciativa Grupo de Apoio aos Enlutados surgiu quando Cassia, Luciana e Patrícia eram voluntárias do CVV ( Centro de Valorização à Vida) de Itapetininga, e o grupo se concretizou com a vinda de Sergio, que, além de conhecimento na área, trouxe o espaço para os encontros.
O Jornal Correio de Itapetininga entrevistou Luciana Fraletti, Psicanalista Clínica, integrante do Instituto Fundamente, atuando como Facilitadora em Grupos de Apoio à Saúde Mental, com ênfase no luto.
Luciana passou por dois lutos nos últimos 4 anos. Um deles foi um luto inesperado, um acidente com uma pessoa muito querida. “Eu perdi o meu chão, como nós sabemos que a vida é finita, a gente sabe que um dia vai acabar, mas nós nunca estamos preparados para o fim” diz a psicanalista. A experiência de perder a pessoa próxima por acidente mexeu muito com a sua parte emocional. “Nós temos a falsa ideia que a nossa vida é programada, controlada, que nós sabemos tudo que vai acontecer no dia de amanhã. E isso não é real. É nesse momento que, mesmo fazendo terapia, o enlutado sente uma dor extrema e não consegue lidar com o luto “, afirma.
Essas vivências pessoais motivaram Luciana na busca de fazer algo para ajudar outras pessoas que também passam por esse sofrimento.
“Eu procurei ajuda na terapia e também comecei a buscar como tratar meu luto em grupos online. Mas a forma presencial é bem melhor. É comum a pessoa enlutada falar que está bem , porém muitas vezes não consegue nem sair da cama, acaba fazendo tudo no modo automático, somente para tentar apenas sobreviver. A partir de compartilhar com outras pessoas e também ouvir relatos, o enlutado desconstrói e ressignifica, passa a dar um novo significado para tudo aquilo que aconteceu. Eu sempre falo que o passado tem que ser referência e nunca ser residência” fala a psicanalista. Essas vivências pessoais foram uma motivação na busca de fazer algo para ajudar outras pessoas que também passaram por esse sofrimento.
“A criação do Grupo foi um sonho que virou realidade, para todos nós que passamos por momentos de luto. Sentimos a necessidade de querer ajudar outras pessoas que passam por esse momento dolorido” diz Luciana.
Ela destaca a importância de oferecer um espaço de apoio ao luto. “ Nós vivemos numa sociedade que não trabalha com a educação de falar sobre o luto. Algo que é tão sensível e dolorido, que infelizmente é pouco falado. O nosso objetivo é criar um ambiente seguro, sigiloso, confidencial, onde as pessoas podem ir e ter uma escuta acolhedora, sem serem julgadas. Os enlutados, muitas vezes, não sabem como agir porque é, justamente, um momento de extrema sensibilidade. No Grupo de Apoio aos Enlutados elas encontram isso e também informações sobre como agir no luto, é importante a pessoa não ficar paralisada, ela precisa continuar caminhando” observa.
Sobre os encontros do grupo, Luciana ressalta que ao escutar os depoimentos de luto dos outros, as pessoas se identificam, e elas vão entendendo que existem outras pessoas que estão vivendo um processo igual. Essa troca é muito importante no processo de aceitação. “Um dos objetivos é trazer mais informações , muitas vezes a pessoa enlutada vive uma montanha russa, e quando ela se depara com outras experiencias como a sua, ela passa a acolher melhor seus sentimentos. O luto não é linear: a cada dia , a cada hora, é preciso trabalhar a melhora. Os testemunhos, neste sentido, ajudam muito. Os enlutados precisam cuidar para futuramente não desenvolverem uma depressão. A gente traz esse auxílio, mas é importante falar que o grupo, embora seja muito terapêutico, mas não é uma terapia. As pessoas devem também procurar o recurso da terapia pessoal” pontua Luciana.No Grupo de Apoio aos Enlutados as pessoas podem falar sobre suas emoções, tendo um apoio emocional. “Todos temos o direito de estar vulneráveis, situação que é algo muito difícil na nossa sociedade. Na nossa sociedade somos ensinados a não falar do nosso sofrimento para os outros “ finaliza.