Por: Mayara Nanini
Vivian Furlan iniciou seus estudos fazendo graduação em Letras-tradução na Universidade de Ouro Preto. Devido à distância da família, optou por transferir o curso para a UFSCar. Em 2010, “tranquei o curso e fui passar seis meses no Canadá. Por lá, tive a oportunidade de trabalhar como ‘Arts and Crafts Assistant’ em um Kindergarten com alunos de 5 e 6 anos. Foi uma experiência maravilhosa e, além das vivências culturais que o intercâmbio proporcionou, eu pude aprimorar muito meu inglês”.
“De volta ao Brasil, estava entusiasmada e tive a certeza de que eu queria muito introduzir algumas metodologias lúdicas que tinha aprendido com esse tipo de ensino canadense em minha futura vida profissional. Logo já comecei a trabalhar em uma escola de Educação Infantil e Fundamental chamada ‘Brincando com Letras’ como professora de Língua Inglesa. Em concomitância com o trabalho formal, eu sempre me envolvi com grupos de mulheres, projetos sociais e uma certa militância feminista na cidade de São Carlos. Também sempre fui muito apaixonada pelas disciplinas de literatura na universidade. Ao me formar, meu TCC foi sobre a biografia de uma escritora portuguesa chamada Florbela Espanca. Esse trabalho tomou maiores proporções, virando um projeto de mestrado”.
Desde criança foi muito incentivada pela mãe aos assuntos ligados à arte. Ela é filha da brilhante psicóloga Lilian Leme e coleciona lembranças culturais geradas pelo ato maternal, que sempre a levou em espaços culturais, viagens, museus e matriculou em aulas de cerâmica, pintura em guardanapo, pintura em telas e outros. Cresceu muito interessada pelas artes em geral e sempre foi atrás de estudar a História da Arte.
De alma sonhadora, tinha também o anseio em ser uma grande curadora. Prestou faculdade de artes e quando morou em São Paulo “voltei atrás disso e comecei a fazer Artes Plásticas na Escola Pan-americana de Artes”. Ficou lá por um ano e aprendeu muita coisa que desenvolve até hoje. Por motivos financeiros e de trabalho, sentiu que precisava focar mais na área de atuação e parou o curso, focando na Pedagogia. Terminou o curso e as artes continuaram a reverberar em seu íntimo, principalmente a cerâmica, que agora virou seu hobby preferido.
Vivi, como é chamada carinhosamente, respira arte em sua rotina. Ao sair do movimento cultural de São Paulo, buscou em Itapetininga, vivências culturais a fim de manter o combustível da alma.
“A cultura em Itapetininga, infelizmente, caminha devagar, mas creio que há espaços e pessoas maravilhosas aqui que querem e lutam por mudar e fazer a cultura acessível, forte e democrática. Confesso que sinto muita falta do fervor cultural que experienciava em meus quase oito anos em São Paulo e, por esse motivo, ao me mudar para cá, fui atrás de me conectar com as pessoas que faziam a arte e a cultura acontecerem por aqui. Uma delas foi a artista Thays Leonel, que é uma artista plástica incrível”.
“Eu vejo que a cultura em nossa cidade precisa de muito mais incentivo financeiro, porque tem muita gente com ótimos projetos para serem executados e infelizmente a arte não pode chegar para todas as pessoas. Um lugar que tenho frequentado muito é o SESI, que tem trazido diversas exposições, peças de teatro, shows excelentes”.
A pedagoga ensina com a alma e alcança os seus alunos, a partir do método de ensino. Sabe-se que os professores com alma de artista levam os alunos ao sucesso, independente do caminho almejado por eles.
“Acredito no legado de Paulo Freire, em uma educação democrática e fundamentalmente humana. A história da educação nos mostra um passado que o ensino era extremamente colonizador, militarizante, bancário, enfim, muito tradicional e, infelizmente nós temos que, diariamente, lutar por preservar a educação que privilegie as pessoas acima das coisas, a diversidade acima do preconceito, a autonomia acima da rigidez limitante, a liberdade acima de tudo. O ensino não é uma mercadoria negociável, ele tem que ser acessível e de qualidade para todos. O conhecimento é sim a arma mais poderosa que temos para melhorar o mundo e as coisas ao nosso redor”.
E podemos dizer ainda que existe mais de uma versão transbordante de Vivi. Apesar das tarefas infinitas realizadas por ela, ainda tem tempo e engajamento para honras seu título de Acadêmica. A integrante reflete que ter entrado para a Academia de Letras de Itapetininga foi uma feliz surpresa e se sentiu muito honrada. “Acredito que a instituição tem uma importância na cidade, com nomes de prestígio, o que nos incentiva a manter o legado e a fazer muito mais! Há diversos projetos em mente, junto de colegas, e buscamos sempre criar maiores oportunidades de contato com a literatura, com as artes, com a cultura e seu acesso democrático. Ainda, creio que os novos e jovens nomes que entraram para a Academia recentemente estão, como eu, muito entusiasmados para agitar as coisas. Estamos com novos projetos e um deles, criado por mim, é de uma biblioteca virtual com acervo de escritores e artistas Itapetininganos”.
Não temos dúvida que a cultura em Itapetininga precisa de grandes nomes entusiastas e Vivian é alguém que chegou para agregar. O universo realmente tece sua intenção e a trouxe para a cidade em um momento propício. Os projetos realizados por ela serão repletos por intenção e amor, assim como sua energia tão nítida. Nada acontece por acaso e o pouso de Vivian em terra Itapetiningana apenas denota a necessidade de ter alguém tão qualificada para ser morada de sonhos.
Nossa cidade está ansiosa para ver a imensa contribuição que Vivian realizará. Obrigada por acreditar na cultura e se fazer presente. Nós precisamos do seu potencial que marca com a alma.