De 1958, Itapetininga engalanou-se para o tradicional desfile da Pátria. Era um ano que futuramente os cronistas, poetas, compositores, escritores, jornalistas chamariam de dourado brasileiro. O país era governado pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira tido na época como um homem democrático, gentil, midiático, popular, elegante, dotado até de certas extravagâncias (e até com a simpatia da maioria da imprensa) como mandar suas duas filhas (uma, adotiva) a debutarem num baile de alta sociedade de Paris, França. Juscelino planejava Brasília como futura capital federal e cercava-se de grandes intelectuais brasileiros da época como Niemayer, por exemplo. E em 1958 o Brasil aparecia para o Mundo pelo fato da seleção brasileira de futebol ter vencido, em Junho, o Campeonato Mundial de Futebol na Suécia, com uma técnica brilhante. Também a paulistana Maria Ester Bueno venceu num torneio de duplas o campeonato de tênis em Wimbledom, Inglaterra. E a bossa nova, que surgiria em novembro daquele ano, com Vinícius de Morais, Tom Jobim e João Gilberto iria reformular a estrutura melódica da música popular do mundo ocidental. 1958 resplandecia e as escolas estaduais e particulares de Itapetininga, chamada de “Terra das Escolas” teria que caprichar no desfile de amor à pátria. Eram poucas escolas, mas todas valorosas. A direção do então Instituto de Educação “Peixoto Gomide”, sob a direção de Antonio Belizandro Barbosa Rezende e equipe, resolveu que cada curso da Escola deveria desfilar com um determinado tema que lembrasse o Brasil. Cursos como o Primário Anexo (hoje: Fundamental I), o Ginasial (seria o Fundamental II), o Científico (atual Nível Médio), e o Normal (seria o de Formação dos Professores Primários, depois denominado de Magistério), hoje, infelizmente extinto. Daí que os normalistas (alunos que frequentavam o Curso Normal) com o auxílio do dentista e pintor Paulo Ayres de Oliveira, de tradicional família daqui, escolheram como tema “Um passeio de um senhor de engenho nordestino do século dezenove”. Para tornar este quadro bem real, o senhor de engenho (logicamente um aluno portando toda a roupagem necessária), iria com seu cavalo, com sua família (esposa, filhas e filhos e outros membros da grande família com roupas da época, chapéus, as mulheres com sombrinhas também da época), conduzidos em carros de boi reais. Atrás desses carros, liteiras conduzidas por escravos, assim como uma multidão deles, alunas e alunos com rostos pintados por graxas, constantemente açoitados por capatazes (logicamente de uma forma teatral) mostrando a crueza e desumanidade da escravidão negra no Brasil. Os alunos do Curso de Magistério que representaram os escravos cantavam baixinho: “Negro clama liberdade, negro clama liberdade”. E desfilavam por uma Campos Salles lotada com um público prestante entusiasta. No caso do “Peixoto Gomide” todos os alunos dos quatro cursos (primário, ginasial, científico e normal) desfilavam. Eram centenas e centenas de estudantes. Havia uma esperança neste país, principalmente neste ano de 1958, um “ano dourado”. Como foi bom viver nesta época. Como foi bom ser aluno do “Peixoto”.
As mulheres e a história
Carla Monteiro e Laura Oliveira Por muito tempo ser mulher era sinônimo de não ter direitos. Elas não podiam estudar, trabalhar, votar, dirigir ou se interessar por qualquer assunto que...