Helio Rubens de Arruda e Miranda – Em meu último texto abordei aqui, com o titulo ´O pedágio bi-direcional e o papel do governo nessa história´, a importância dos três níveis governamentais brasileiros colocarem urgentemente o ´Social´ à frente do ´Capital´ e não o contrário, como acontece atualmente.
Essa proposta pode parecer uma obviedade, mas infelizmente não é. O que tem ocorrido nos últimos anos é que os governos – e a própria iniciativa privada – sensibilizados pela correta idéia de que desenvolvimento só acontece com investimentos de capital, ultrapassaram os limites do razoável ao não medirem corretamente a relação custo-benefício. A própria população – também ela alvo de uma mídia comprometida apenas com os interesses financeiros – passou a acreditar que as mais variadas concessões deveriam ser feitas pelos governantes para atrair investimentos. Mas apesar de tudo ter um limite – inclusive o ´bom´, no caso o Capital – isso parece não ter sido bem entendido pela União, pelos estados e principalmente pelos municípios, que ´perderam o foco´ e passaram a colocar o capital como fim em si e não como meio para beneficiar a população, como deveria ser.
A ´Carta de Itapetininga´, documento que resume o decidido pelo ´Fórum Regional do Agronegócios´ promovido recentemente pela Câmara de Itapetininga, é um dos poucos documentos recentes que reagem a esse estado de coisas. Ela explicita que, diante do interesse social, vale mais para nossa região, por exemplo, receber muitos pequenos investimentos na agricultura, do que um só grande investimento em projeto agrícola. Os motivos são simples e fáceis de entender: os pequenos investimentos ficarão sediados aqui na região; oferecendo muitos empregos. Seus investimentos serão gastos aqui mesmo, assim como aqui ficarão seus lucros. A tendência é que o ciclo econômico-financeiro dos pequenos fique orbitando em torno da sua própria comunidade, criando assim um circulo virtuoso da economia.
Na outra ponta o Grande Capital, que viria com alta tecnologia, gerando poucos empregos, trazendo fornecedores de fora e, claro, levando para suas sedes a lucratividade obtida. A economia local ficaria extremamente dependente desse empreendimento, pois uma eventual saída dele certamente representaria um duro golpe social.
Mas vigora no Brasil a lei do mais forte, a proposta neoliberal.
Para entender porque chegamos a esse ponto, vale recordar um pouco a história contemporânea. De alguns anos para cá os governantes brasileiros, exasperados com a falta de capital para investir na infraestrutura indispensável para o desenvolvimento, concluíram que seria bom negócio para o Brasil fazer o que muitos países já tinham feito: oferecer a grupos capitalistas, como contrapartida a investimentos na infraestrutura, o direito de ex-plorar comercialmente determinadas áreas de serviços públicos. Foi como se o governo tivesse falado ao mundo financeiro: “venham aplicar seu dinheiro aqui e em troca lhe ga-rantiremos altos dividendos, com retornos financeiros formidáveis a curto, médio e longo prazos!”. Como o Capital vai aonde mais lhe convém, multinacionais e grupos econômicos tupiniquins aceitaram a oferta do governo e trouxeram para cá as suas aplicações financeiras e suas tecnologias.
Foi uma boa, à época. Nós, os brasileiros, que estávamos enojados com as enferrujadíssimas máquinas estatais que tinham virado cabides de empregos para pelegos e afilhados políticos, onde imperava a incompetência administrativa e as grandes maracutaias, vimos com satisfação a novidade. Foi um alivio saber que não teríamos mais que manter aquelas custosas e ineficientes máquinas estatais e ainda teríamos os investimentos na infra-estrutura que precisávamos. E alegremente vimos mudarem de donos as siderúrgicas, as rodovias, as ferrovias, as empresas de telefonia, as geradoras e distribuidoras de energia e até os bancos. Apesar do choque inicial provocado pelo desemprego, as novas medidas governamentais foram plenamente assimiladas pela população: “afinal, os que perderam seus empregos eram incompetentes e corruptos…” raciocinávamos.
Para entender porque chegamos ao ponto que estamos hoje, é preciso conhecer um pouco a história contemporânea da economia brasileira.
(*) O autor é jornalista
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