Parece haver hoje em nosso país uma política deliberada de desqualificação da Medicina e dos médicos. A despeito de ainda ser centro de excelência e referência mundial em variadas especialidades, o Brasil coloca seu sistema de saúde em xeque por equívocos ou falta de visão dos gestores.
A abertura de escolas médicas não foi enfrentada com a devida seriedade e os resultados são nefastos. Recente avaliação do Conselho Regional de Medicina de São Paulo com estudantes do sexto ano atestou que quase 50% deles não sabe interpretar radiografia ou fazer diagnóstico após receber informações dos pacientes. Também cerca de metade administraria tratamento impreciso para infecção na garganta, meningite e sífilis. Ainda não seria capaz de identificar febre alta como fator que eleva o risco de infecção grave em bebê.
De certa forma, a responsabilidade não é só deles, que pagam mensalidades caríssimas convictos de que receberão conhecimento suficiente para bem servir ao próximo. É fruto da mercantilização do ensino. Faz tempo que escolas médicas são abertas com qualidade absolutamente contestável. A maioria é autorizada a funcionar sem hospital escola, com corpo docente de capacitação discutível, falhas na grade pedagógica, entre outros problemas. Não dá para fechar os olhos: isso é um risco à saúde e à vida dos cidadãos.
O perigo não mora só aqui. O governo federal adotará nova estratégia para facilitar a revalidação de diploma de médicos brasileiros formados na Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM) de Cuba. Com recursos de nossos impostos, eles terão estágio em hospitais públicos, recebendo bolsa, enquanto fazem cursinho de reforço para se preparar para uma prova de revalidação de diploma.
Enfim, parece que se planeja oferecer Medicina de segunda categoria para os carentes e desassistidos. Não podemos compactuar de forma alguma com isso.
Antonio Carlos Lopes
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