O casarão centenário que fica às margens do Rio Itapetininga na Estância Lucinda, considerado a primeira casa de Itapetininga, está em ruínas. Situada no bairro do Porto, o importante símbolo e marco da história da cidade vem sofrendo com a ação do tempo e a falta de manutenção e recentemente sofreu intervenções para retirada das portas e janelas.
Nas fotos registradas pela fotógrafa Milena Dias nesta semana é possível ver o que sobrou da estrutura da casa, agora sem as charmosas portas e janelas azuis. Até os batentes foram retirados. Resquícios de tijolos à beira da antiga construção dão o tom de que o serviço foi recém executado.
Em breve conversa com o Jornal Correio o proprietário da casa que fica em uma área de aproximadamente 60 alqueires esclareceu que a situação estava perigosa. “Uma parte da casa quase caiu sobre um funcionário meu. Está caindo. Não tem o que fazer. A prefeitura disse que iria ajudar, mas não ajudou”.
A lei 6.180, que discorre sobre o Plano Municipal de Cultura de Itapetininga prevê em seus objetivos a garantia a proteção do patrimônio material e imaterial.
Em nota, a prefeitura informou que integra um grupo composto por sete municípios da região e que solicitou uma audiência com o Governo do Estado de São Paulo para discutir políticas públicas voltadas ao patrimônio histórico da cidade e fomento do turismo regional.
A nova gestão da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo informa ainda que, ciente da relevância histórica do imóvel, está à inteira disposição do proprietário para discutir propostas e projetos sobre a área.
Importância histórica
O arquiteto e pesquisador em patrimônio cultural, Igor Matheus Santana Chaves, explica que a não preservação de um imóvel como a casa do porto promove a condição de esquecimento da história da cidade.
“Essa casa nos ajudava a contar que o município não começou ali no Largo dos Amores, Igreja Matriz…como muita gente acredita. O município começou no Bairro do Porto, o primeiro núcleo urbano do município foi lá. A gente perder isso é uma condição de esquecimento que já está tão difícil de lutar nos dias de hoje”.
Ainda de acordo com o pesquisador, a casa ajuda a contar a história do estado como um todo porque o movimento dos bandeirantes e o tropeirismo estão entre as principais formas econômicas do Estado de São Paulo, diferente dos outros estados, eram consideradas uma profissão.
“Pela Constituição Federal a gente tem que permitir que outras gerações consigam entender a história, então é mais um elemento que vai fazer a gente perder de contar isso. A gente precisa fazer um registro, um inventário do patrimônio do município. Estamos perdendo muita coisa. Essa casa no final das contas é mais uma parte da nossa história que não existe mais e não foi uma coisa que aconteceu, foi uma coisa que a gente permitiu”.
O prédio
Em um artigo publicado em 2020 pelo Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga (IHGGI), o antigo casarão do bairro do Porto na Estância Lucinda foi o tema. ”O velho prédio, de estilo colonial, data de meados do século XIX, na avaliação de Jaelson Bitran Trindade, especialista do Condephat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que visitou o local há alguns anos, fotografando o casarão ainda em bom estado. A velha ponte também está lá, em total ruína. Toda sua estrutura, construída de imensas toras, resiste debruçada sobre as águas do Itapetininga”, aponta o texto.
De acordo com artigo, a casa é uma edificação composta de duas habitações contíguas: o setor da esquerda apresenta hoje planta igual ao da direita, porém mais estreita, o que sugere que tenha sido uma venda ou pouso, ou mesmo uma agência de cobrança de impostos e as paredes internas podem ser posteriores. As paredes externas são em taipa de pilão e as internas em taipa de mão. O piso é assoalhado -com exceção da sala de jantar e cozinha e a área tabuada é de tábuas estreitas, o que sugere tratar-se de colocação posterior. A carpintaria da casa tem a estrutura dos beirais com encaixe em rabo de andorinha na vertical, viga retranca sobre os cachorros e sob os caibros.