Carla Monteiro
Eu não tenho dúvidas de que é parte do destino da raça humana, na sua evolução gradual, parar de comer animais. A frase é do pensador norte-americano Henry David Thoreau (1817 a 1862) que previa o aumento de adeptos ao vegetarianismo. Bem antes, no século XV, Leonardo da Vinci (1452 a 1519) apontava os humanos se contentariam com uma alimentação sem carne e “julgarão a matança de um animal inocente como hoje se julga o assassínio de um homem”. Já o pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869 a 1948) destacava que “quanto mais indefesa a criatura mais direito ela tem à proteção dos homens contra a crueldade humana.”
Esse pensamento se espalhou pelo mundo. Em Itapetininga, grupos ligados a esta filosofia sustentam uma vida distante de carnes e produtos de origem animal. A vegana, Eliane Bazolli, diz que cada pessoa tem sua experiência única de vida que a leva ao vegetarianismo e, em seguida, ao veganismo, “pode haver pontos em comum entre as histórias, como ter assistido ao documentário ‘A Carne É Fraca’ ou ‘Terráqueos’, ter visitado um matadouro e também a trajetória de alguém pode inspirar outras pessoas”.
Eliane conta que optou inicialmente em ser vegetariana pois, sentia-se incomodada com a carne no prato durante as refeições, além disso o fato de se deparar com caminhões transportando animais para matadouros também foi decisivo. “Foi em uma dessas vezes, quando seguia um caminhão que transportava porcos na estrada que sai do automático. O olhar triste e penetrante daquele animal doeu na minha alma ao saber qual seria seu destino. Resolvi a partir daí buscar a verdade de como a carne vem parar em nosso prato.”
Para entender melhor o assunto, ela começou a pesquisar o tema e chegou a conclusão que “o consumo de carne não afeta só a vida dos animais, mas a vida do planeta e a nossa também”. Isso aconteceu quando ela assistiu o documentário “Terráqueos”, há seis anos. “Tive certeza do quanto é cruel a procedência das carnes e decidi que não faria mais parte disso, não financiaria a tortura.”
Eliane lista os principais motivos para aderir ao veganismo. Existe a questão social, para ela o vegetarianismo pode ajudar no combate a fome. “Uma tonelada de vegetais para alimentar as pessoas equivale a uma tonelada de alimentos. Porém, uma tonelada de vegetais para alimentar o gado vai se transformar em menos de 200 quilos de carne. Ou seja, desperdiçamos 80% deste alimento para convertê-lo em carne, o que é extremamente ineficiente para um planeta com milhões de pessoas passando fome. Se todos fossem vegetarianos poderíamos ter cinco vezes mais alimentos disponíveis e ainda preservar nossas últimas florestas”.
Há também, segundo ela, a questão da saúde, “apesar de muitas pessoas acreditarem que nosso corpo necessita de alimentos de origem animal, a realidade é exatamente o oposto. O consumo de proteínas de origem animal, carnes, ovos e laticínios esta ligado a diversos tipos de câncer e outras doenças fatais como problemas cardiovasculares, diabetes e excesso de colesterol. Veganos e vegetarianos estatisticamente são mais saudáveis que onívoros”.
Outro ponto é a preocupação ambiental. Ela explica que “para abrir espaço para a criação de gado, pecuaristas desmatam. E isso é a principal causa da degradação da Floresta Amazônica. A pecuária responde por mais emissões de gases do efeito estufa do que todos os transportes somados, carros, caminhões, aviões, navios e todos os ônibus juntos”.
Eliane encerra dizendo que os veganos reconhecem que os animais têm direitos. “Principalmente direito à vida e à liberdade. Para sermos coerentes com este princípio, somos contra a exploração dos animais, seja para quaisquer fins. Portanto, contra a utilização dos animais como comida (carne, leite, ovos, mel), vestuário (casacos de pele, sapatos e cintos de couro), diversão (rodeios, circos, zoológicos), experiências científicas, e comércio”.
Ovolactovegetariano
Encaixam-se nessa categoria todos os vegetarianos que consomem ovos, leite e derivados ou algum outro alimento de origem animal exceto carne. É o caso de Venício Loenert, deixou de comer carne há 15 anos por influência da prática da Ioga que sugere uma alimentação livre de carnes. Além disso, ele fez uma pesquisa e o fator saúde também teve seu peso na decisão.
Hoje, os motivos são ainda maiores como a compaixão com os animais, o respeito à vida e questões econômicas, sociais e ambientais. “Já estou habituado, no início ocorreu uma crise pequena com meus pais, mas eles aceitaram desde que procurasse uma nutricionista para manter a qualidade de vida. Nos jantares de família, sempre faziam alguma coisa separada para mim, mas como a comida vegetariana agrada a todos, às vezes acabava antes de eu chegar”, relembra.
Loenert explica que a partir do momento que eliminou a carne do cardápio é que ele passou a sentir verdadeiramente o sabor dos alimentos. “Para comer a carne ela deve ser muito temperada, isso mascara o sabor dos outros alimentos. Quando eu a exclui dos meus pratos, abriu um leque de diversas comidas, o nuance e os sabores ficaram mais intensos.”
Há também uma preocupação em consumir produtos orgânicos pois, eles são livres de toxinas e agrotóxicos. Venício conta que no início queria convencer as pessoas que comer carne não era uma prática saudável. “Hoje vejo que não preciso convencê-las, eu conscientizo e aí fica por conta de cada um seguir o que acha correto”, encerra.